26 January 2007

Clap Your Hands Say Yeah - Clap Your Hands Say Yeah



A estética do "copy+paste" nada contém de maligno em si mesma. Posso facilmente imaginar um magnífico híbrido sonoro composto da voz de Solomon Burke com a guitarra de Jimi Hendrix e a maquinaria de Brian Eno. Ou Nick Cave, em dueto com Billie Holiday, acompanhado por Bo Diddley e dispondo de Morricone aos comandos da nave. Mas tão belíssimas quimeras apenas conseguiriam ganhar vida própria se o Frankenstein de turno não se satisfizesse com o mero trabalho de corte e costura e, em simultâneo, tratasse de accionar a tecla do "shuffle", procurando atingir aquele plano superior da "random accuracy" onde as partes se esboroariam no todo, gerando um novo e assombroso organismo. A riqueza genética da(s) matéria(s)-prima(s) seria, nauralmente, decisiva. E tanto mais fértil quanto menos explorada anteriormente. É precisamente por contrariar esta última alínea do protocolo laboratorial que o álbum de estreia dos norte-americanos Clap Your Hands Say Yeah é verdadeiramente surpreendente: a voz de Alan Ounsworth é David Byrne via-Gordon Gano (Violent Femmes), as guitarras passam os Velvet Underground pela peneira dos Feelies e o baixo mimetiza todas os graus da escala que vai dos Joy Division aos New Order, passando pelos Cure. Com alguma histeria residual dos Pixies, a elegância mal amanhada de Jonathan Richman e a charanga de ferro-velho que, da Band Of Holy Joy a Tom Waits, muito bons serviços já prestou.



Nada de novo, então?... Errado: algum catalizador desconhecido terá caído, por acidente, no tubo de ensaio, pelo que a criatura CYHSY, apesar de constituída por tecidos com bastante uso, é um espécime bem interessante. Curiosamente, segundo os próprios, a fórmula da poção é outra: Nina Simone, Neil Young, Bob Dylan, Brian Eno, Beach Boys, Temptations, Clash, Phil Spector, Richard Thompson, Springsteen... mais outros tantos. É provável que eles não saibam o que dizem. Tal como nós nunca estaremos muito certos do que fala o surrealismo maltrapilho dos textos (um exemplo só e logo o primeiro: "Run the lip off sunshine shore, betray white water, delay dark forms, slap young waves on wooden bones, don't touch the laughter and away we go"). Não importa. Por uma vez, é possível dizer "believe the hype!" sem problemas respiratórios.

No comments: