24 October 2007

TOP 100 DO SÉCULO XX (I)
(organizado - ordem alfabética - para a revista Op em 2003)



ABBA - The Definitive Collection
AIMEE MANN - Bachelor nº2 (Or The Last Remains Of The Dodo)
AMERICAN MUSIC CLUB - Mercury
ANITA LANE - Dirty Pearl
AZTEC CAMERA - High Land Hard Rain
BEACH BOYS - Pet Sounds
THE BEATLES - Revolver/The White Album/1967-70

[numa outra lista de 1999/2000 que ficou seriamente amputada e incompleta surgiu isto:

THE BEATLES
1967/1970
Produção: George Martin (excepto "Across The Universe" e "The Long And Winding Road", produzidas por Phil Spector)
Intervenientes: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr e vários
Primeira edição: Apple, 1973

Os Beatles transformaram o mundo. O mundo da música popular e o outro. É oficial. Mas, agora que o recuo histórico já é suficiente, também não custa muito dizer que a banda que, na origem, não era nada de muito mais extraordinário do que aquilo a que hoje, naturalmente, chamaríamos uma "boys band" (e o exercício de "marketing" que os impôs deverá ser reconhecido, se calhar — no contexto histórico e social da época —, como o mais genial do século), foi, por diversas vezes, bastante sobrevalorizada e subvalorizada. Até Help, de 1965 (quando Bob Dylan lhes mostrou a via para Deus na ponta de um charro ou numa viagem de LSD), os então "Fab Four/Moptops" faziam apenas rock primordial ligeiro — inspirado por Elvis, Buddy Holly, Chuck Berry, Little Richard, Carl Perkins e os Everly Brothers — mas suficientemente frívolo e "andrógino" (oh!, aqueles inocentes cabelitos por cima do colarinho...) para abalar a desgraçada moral espartana da época. Rubber Soul (1965) iniciou a viagem no interior do labirinto musical e mental que o fabuloso Revolver (1966) concretizou magistralmente naquilo que terá sido a primeira obra prima da pop moderna e de que Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band (1967) — francamente inferior mas que, coincidindo milagrosamente com a atmosfera do primeiro "Summer of Love", ganharia estatuto mítico e simbólico — foi a coroação planetária. É, porém, na compilação do duplo "álbum azul" de 1973 que se encontra a mais rica e representativa colecção de canções dos Beatles em todo o seu simultâneo esplendor pop e espírito de aventura experimentalista. O primeiro disco, então, é definitivamente, o ponto culminante da escrita de Lennon e McCartney: "Penny Lane", "Strawberry Fields Forever", "Hello Goodbye", "Hey Jude" e "Lady Madonna" (antes, apenas disponíveis em single), "I Am The Walrus", "The Fool On The Hill" e "Magical Mystery Tour" (do mal amado filme do mesmo nome), "Sgt Peppers", "Lucy In The Sky", "A Day In The Life", "All You Need Is Love" e "Revolution" não têm igual em nenhum outro álbum pop. E o segundo — excluindo alguma sacarina de McCartney e outros harrisonismos adventícios —, com "The Ballad Of John And Yoko", "Come Together", "Don't Let Me Down", "Get Back", "Back In The USSR" e "Across The Universe" não lhe fica muito atrás.

OUVIR TAMBÉM: Fifth Dimension (The Byrds), Buffalo Springfield Again (Buffalo Springfield), The Kink Kronikles (The Kinks), Their Satanic Magesties Request (Rolling Stones), John Lennon/Plastic Ono Band (John Lennon); Goodbye And Hello (Tim Buckley); Song Cycle (Van Dyke Parks); Imperial Bedroom (Elvis Costello), Giant Steps (Boo Radleys), Tropicália (Vários), You Can' Hide Your Love Forever (Orange Juice); Repercussion (DBs); Apple Venus Volume I (XTC), Sisters (The Bluebells), High Land Hard Rain (Aztec Camera), Martinis & Bikinis (Sam Phillips); Parklife (Blur)]

BJÖRK - Post/Live At The Union Chapel (bootleg)

[porém - prova de que todas as listas são provisórias -, numa outra lista de 1999/2000 que ficou seriamente amputada e incompleta surgiu isto:

BJÖRK
Debut
Produção: Nellee Hooper/Björk
Intervenientes: Marius De Vries, Paul Waller, Martin Virgo, Garry Hughes, Luis Jardim, Bruce Smith, Nellee Hooper, Jhelisa Anderson, Corki Hale, Jon Mallison, Talvin Singh, Sureh Sathe, Oliver Lake, Gary Barnacle, Mike Mower.
Primeira edição: One Little Indian, 1993

A população da Islândia, como se sabe, não chega para esgotar dois estádios da Luz. Pelo que nunca seria de esperar que, de um território que conta dois habitantes por quilómetro quadrado, emergisse uma das figuras centrais da pop na última década do século. Mas foi precisamente desse rochedo vulcânico plantado em pleno Atlântico Norte que Björk Gudmunsdottir, a bordo de uma banda de alegres anarco-punks — os Sugarcubes —, começou por deixar sem fõlego o universo pop com uma canção ("Birthday") e um álbum (Life's Too Good, 1988). Não tardou muito, porém, para que se compreendesse (e, lealmente, sem nunca o confessar, ela também o entendeu) que os Sugarcubes poderiam ser os melhores amigos mas eram demasiado limitados para poder conter o seu imenso talento vocal, de "soundwriter" e (vir-se-ia a saber, cerca de dez anos depois, com Dancer In The Dark) de actriz. Debut foi simultaneamente a candadidatura e a conquista do estatuto de — como a "Face" então a caracterizou — "seriously devastating diva". Produzido pelo "mastermind" dos Soul II Soul, Nellee Hooper, e encaminhando para o interior de uma estrutura sonora assente nos procedimentos da "club culture" os mais variados idiomas musicais, é um dos mais perfeitamente acabados exemplos daquilo que a própria Björk designa como "a matemática das emoções". Desconfortável com todas as categorias e a todas elas aberto, Debut abriga uma colecção de canções radicalmente modernas na forma de articular os elementos sonoros mas que, ao mesmo tempo, se referem à matriz clássica e tanto a veneram como a distorcem e alojam num enquadramento onde as regras de relacionamento são definitivamente outras.

OUVIR TAMBÉM: Violently Live (bootleg), Post e Homogenic (Björk); Dummy (Portishead); Londinium (Archive); Come From Heaven (Alpha); Organism (Jimi Tenor); Attica Blues (Attica Blues); Whiskey (Jay Jay Johanson); Lamb (Lamb); Unter Anderen Bedingungen Als Liebe (Laub); Midnite Vultures (Beck); City Watching (Two Banks Of Four)]

BLUE NILE - Hats

[numa outra lista de 1999/2000 que ficou seriamente amputada e incompleta surgiu isto:

THE BLUE NILE
Hats
Produção: The Blue Nile
Intervenientes: Paul Buchanan, Robert Bell, Paul Joseph Moore
Primeira edição: Linn Records/Virgin, 1989

Com uma discografia total de três álbuns (A Walk Across The Rooftops, de 1984, Hats, de 1989 e Peace At Last, de 1996) para dezanove anos de carreira, os Blue Nile serão ou a banda mais patologicamente perfeccionista de todos os tempos ou a mais preguiçosa. Tudo aponta, contudo, para que a primeira hipótese seja a verdadeira. E, tanto assim é que, desde o início (e muitíssimo injustamente porque o trio de Glasgow é bastante mais do que isso), os Blue Nile foram encarados como uma banda de audiófilos — essa tribo exótica de gente que venera a excelsa qualidade do som acima de todas as coisas. Sintomaticamente editados, desde o princípio, pela Linn (um fabricante de aparelhagens de alta fidelidade), ouvir apenas isso é ouvir pouco. A Walk Across The Rooftops é, talvez, aquele que mais se presta a esse tipo de associação de ideias — tudo nele é obsessiva e minuciosamente perfeito, dos arranjos à disposição espacial dos sons — mas foi em Hats que o universo cinematicamente nocturno do grupo melhor se traduziu num conjunto de sete sublimes canções em que a voz de Paul Buchanan deslizava sobre os tapetes de veludo dos sintetizadores como uma panorâmica aérea sobre as luzes de uma metrópole que mergulha lentamente na escuridão. Lá em baixo, adivinha-se a existência de gente, ruas, emoções, farrapos de diálogos, movimento. E, esses, seriam registados, a seguir, em "zoom", por Dummy e Blue Lines.

OUVIR TAMBÉM: Dummy (Portishead); Blue Lines (Massive Attack); The Space Between Us (Craig Armstrong)]

BOB DYLAN - Bringing It All Back Home/Highway 61 Revisited/Blonde On Blonde/Basement Tapes (c/ The Band)

(2007)

4 comments:

Anonymous said...

Ena! A lista!

Sobre a importância dos Beatles veja-se Isto

João Lisboa said...

Eu conheço gajos (quase) assim!...

Anonymous said...

"explendor"? não há quem aprenda português por aqui?

antónio

João Lisboa said...

Eu deveria ser dado como exemplo de "empregador modelo" na pátria do desemprego: há tempos, a outro leitor do blog, oferecei o lugar de presidente do clube de fãs; agora, se o aceitar, proponho-lhe o cargo de "copydesk" oficial. Aceita?