19 November 2007

DEPOIS DA FEBRE DO OURO

Depois da febre do ouro,
ficámos nós, alguns utensílios
inúteis e tratados elementares
de Química, apenas folheados.
Alguns cães abandonados
que rosnavam, lutando
por restos de comida.
Depois da febre do ouro,
regressámos a ocupações triviais
e ninguém pareceu reparar;
a descrença manteve
a temperatura habitual.


Neil Young - After the Gold Rush

UMA VELHA, NA CAVE, RECORDA DRUMMOND

Em que cisma esta velha,
com a cabeça um pouco abaixo dos escapes,
um pouco acima da merda dos cães?
Que torpor lhe povoa a cave,
que lhe poupa o rosto?
No meio do caminho há uma pedra?
- nem a velha, nem eu, parecemos capazes
de reconhecê-la, ou tropeçar nela;
nesta noite plácida, onde se escondem
perfídias, não haverá ninguém
seduzido pela tentação
de dinamitar a Casa da Moeda?

(in Nada Tão Importante Que Não Possa Ser Dito, de José Alberto Oliveira, Ed. Assírio & Alvim, 2007)

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