27 May 2008

SEM PLANO
(repescado a partir daqui)



Depois de tocarem em Braga, para uma plateia de estudantes, às quatro da manhã, sob chuva torrencial, os Tindersticks voltaram a Inglaterra. Mas Stuart Staples, voz e autoconfessada força motriz da banda ("embora não necessariamente na melhor direcção"), ficou em Lisboa para conversar acerca do novo álbum Can Our Love e dos dez anos de carreira de um grupo eternamente à beira da dissolução e ciclicamente redescobrindo que, se calhar, para as seis pessoas que o compõem, não existe estimulante mais intenso do que o que surge de cada vez que se reencontram.

Foi vossa intenção deliberada gravar um álbum de curta duração, 45 minutos de música?
Não. Simple Pleasures foi intencional. Para este disco não fazíamos nenhuma ideia de como iria ser. Tínhamos imensos pontos de partida mas em canções como "Sweet Release", "Can Our Love" ou "People Keep Comin' Around", foi o próprio peso e intensidade delas que determinou tudo, elas exigiam espaços de respiração, não poderiam viver num álbum sobrelotado.

Não é, de todo, uma referência nova na vossa música. Mas, mesmo assim, parece-me existir uma certa predominância maior de uma estética soul clássica neste disco...
É verdade. É algo que tem vindo naturalmente a crescer. Quando gravámos Curtains, sentimos claramente que ele assinalava o final de alguma coisa. E tivemos de nos afastar dos cinco anos da nossa história passada. Pretendemos redescobrir a essência das coisas, reinventar uma outra simplicidade, identificar os elementos básicos. Simple Pleasures emergiu de uma certa área da nossa consciência onde procurávamos distanciar-nos desse passado e isso era muito evidente. Neste álbum partimos de pequenas ideias e deixámo-las apenas fluir espontaneamente, sem nenhum plano prévio. Absorveu esse tipo de influências de que falou mas também, aos meus ouvidos, continua a transpirar Velvet Underground, Tim Hardin ou Joy Division por todos os poros. São pontos de referência de que não nos conseguimos afastar.



Talvez por isso o álbum não se desenvolva segundo um percurso rectilínio: de início, remete para o passado do grupo, depois assume a inflexão soul, "Tricklin'" é um momento de suspensão, a influência soul regressa e termina consigo recitanto mais do que cantando os textos...
Não gostamos muito de linhas rectas... (risos) Qualquer um pode desenhar uma linha recta.

Se tiver bebido um bocadinho de mais pode não ser fácil...
Pode-se sempre utilizar uma régua... Falando a sério, as canções reagiram umas às outras e temas como "Tricklin'" e "Don't Ever Get Tired" criaram esse tal espaço para que as outras se pudessem espraiar.

"Tricklin'" parece quase um mantra sonâmbulo...
Ainda me surpreende a forma como ela acabou por aparecer no disco. Foi uma coisa que, por nenhuma razão aparente, ia trauteando a caminho de casa. Quando cheguei, gravei-a no meu pequeno estúdio em menos de três quartos de hora. É bastante representativa da forma como este disco foi concebido.

Que especial relação é essa que existe entre os Tindersticks e os burros? A vossa colectânea chamava-se Donkeys (segundo me disse na altura, porque a palavra soava bem), neste álbum, na capa e na contracapa, há fotografias de burros...
Passámos três semanas num pequeno estúdio escuro. E quando decidimos sair cá fora, em Devon, existe um "santuário" de burros onde vou muitas vezes. É um lugar onde eles, encarados como uma espécie de símbolo de abuso laboral, são libertados. Não sei muito bem porquê, mas pareceu-nos que aquelas imagens teriam alguma coisa a ver com o espírito do disco. Experimente convencer um burro a andar se ele não estiver para aí virado....(risos) Mas aconteceu praticamente o mesmo com todas as nossas capas. A imagem do primeiro álbum vimo-la na parede de um restaurante chinês de "take-away". Era a capa perfeita para o álbum. Quisemo-la comprar mas o dono do restaurante não a quis vender. Tivemos de ir lá fotografá-la.



Há quatro ou cinco anos, houve um momento em que, segundo confessaram, o grupo teve de parar para reflectir e decidir se desejava ou não continuar a existir. Agora, que celebram dez anos de carreira, sentem que essa dúvida foi ultrapassada?
No ano passado, não nos encontrámos durante sete meses. Quando iniciámos a gravação deste disco, fizemo-lo com uma atitude ultra-céptica. Não estávamos absolutamente convencidos de que fazê-lo seria uma boa ideia. Foi durante a gravação de canções como "No Man In The World" e "Sweet Release" que sentimos que havia outra vez alguma coisa importante que emergia de nós seis naquela sala. E compreendemos de novo que, só entre nós aquele tipo de relação se pode estabelecer.

De qualquer modo, quando ainda antes dos Tindersticks (chamavam-se, então, Asphalt Ribbons), começaram a compôr e a tocar, imaginavam que, mais de dez anos depois, continuariam a publicar discos e a actuar?
Não. Procedemos sempre por pequenos passos. Num congeminámos um grande plano. Poderei ter funcionado como uma força motriz para a banda embora não necessariamente na melhor direcção... Mas, pelo menos, faço as coisas andar para a frente. Ainda na semana passada, em Bruxelas, demos cinco concertos totalmente diferentes, todas as noites: com pessoas diferentes tocando connosco e reportórios diferentes. A primeira noite foi mais dedicada ao primeiro álbum, a segunda com uma orquestra de cordas, a terceira com uma secção de sopros, na última, foi tudo o mais acústico e despojado possível. É este género de pequenas surpresas e estímulos que nos impele a prosseguir.



(2001)

5 comments:

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