30 November 2009

COM EMPRESAS DESTAS...


Jesus cura o leproso - Jean-Marie Doze, 1864


A primeira metade até nem está mal: quer devido ao facto de o grande espantalho da gripe A meter cada vez menos medo (mas quem tinha de comprar as vacinas já comprou e quem tinha de vender já vendeu), quer porque os clientes da Vaticano S.A. gozam de especial e santíssima imunidade, as missinhas lá mantêm as mesmas dezenas de cabeças grisalhas habituais; mas... mas... mas... "se a pandemia o justificar, a igreja pode interromper as celebrações litúrgicas"???!!!... Então, justamente no momento em que a peste se abate sobre os mémés-do-senhor, é que os funcionários da empresa metem o rabo entre as pernas e lhes recusam os milagres e salvações prometidos? Então o filho do Panthera, para ganhar a vidinha com os seus truques de ilusionismo, partilhava a côdea com os leprosos e estas petúnias murchas contemporâneas não só recorrem ao esguicho de água-benta em unidose como se preparam para a retirada higiénica estratégica? Ponham os olhos no valente bispo Edir que até sacrifícios com sangue executa!

(2009)
NÃO VALIA A PENA



Monsters Of Folk - Monsters Of Folk

Esqueçamos por um instante que a história do pop/rock transformou a palavra "supergrupo" num palavrão a evitar cuidadosamente em sociedade. Façamos por não reparar que Conor Oberst (Bright Eyes), Jim James (My Morning Jacket), Matt Ward (She & Him) e Mike Mogis (Bright Eyes), ao reunirem-se para uma série de concertos em 2004, e ao publicarem, agora, o reportório comum daí resultante, optaram por se pôr a jeito, designando-se como Monsters Of Folk. Concentremo-nos, sem demasiados preconceitos, apenas em cada um deles e no que resulta do encontro dos quatro, tal como poderíamos pensar em relação aos Crosby, Stills, Nash & Young ou aos Traveling Wilburys. Que resulta, então, daí? Pois... não há outra forma de o dizer: apenas uma versão assaz requentada dos CSN&Y e dos Wilburys, metastizada pelos territórios dos Beatles, dos Byrds, de Woody Guthrie, dos Monkees e, sim – na faixa de abertura, "Dear God" –, até pelo falsetto charoposo, versão-Bee Gees. Com derivações pontuais para os tiques mais estereotipada e imediatamente reconhecíveis de Neil Young, Gram Parsons e várias outras luminárias que apenas por crueldade e demasiado espaço disponível seria de enumerar. Não valia a pena terem-se incomodado.

(2009)
THE UNTHANKS - "THE TESTIMONY OF PATIENCE KERSHAW"
(Frank Higgins)



It's good of you to ask me, Sir,
to tell you how I spend my days
Down in a coal black tunnel, Sir,
I hurry corves to earn my pay.
The corves are full of coal, kind Sir,
I push them with my hands and head.
It isn't lady-like, but Sir,
you've got to earn your daily bread.

I push them with my hands and head,
and so my hair gets worn away.
You see this baldy patch I've got,
it shames me like I just can't say.
A lady's hands are lily white,
but mine are full of cuts and segs.
And since I'm pushing all the time,
I've got great big muscles on my legs.

I try to be respectable, but sir,
the shame, God save my soul.
I work with naked, sweating men
who curse and swear and hew the coal.
The sights, the sounds, the smells, kind Sir,
not even God could know my pain.
I say my prayers, but what's the use?
Tomorrow will be just the same.

Now, sometimes, Sir, I don't feel well,
my stomach's sick, my head it aches.
I've got to hurry best I can.
My knees are weak, my back near breaks.
And then I'm slow, and then I'm scared
these naked men will batter me.
But they're not to blame, for if I'm slow,
their families will starve, you see.

Now all the lads, they laugh at me, and Sir,
the mirror tells me why.
Pale and dirty can't look nice.
It doesn't matter how hard I try.
Great big muscles on my legs,
a baldy patch upon my head.
A lady, Sir? Oh, no, not me!
I should've been a boy instead.

I praise your good intentions, Sir,
I love your kind and gentle heart
But now it's 1842, and you and I,
we're miles apart.
A hundred years and more will pass
before we're standing side by side
But please accept my grateful thanks.
God bless you Sir, at least you tried.


(In 1842, a commission of the British government examined the working conditions of women and children who worked in the coal mines. An illiterate girl of 17, Patience Kershaw, gave this testimony)

(2009)

29 November 2009



Lisboa, Portugal



Kazan, República do Tartaristão, Rússia



S. Petersburgo, Rússia



Norilsk, Rússia



Berlim, Alemanha

(2009)
AND SO MUCH FOR "BROTHERLY LOVE"


"You know what the fellow said – in Italy, for thirty years under the Borgias, they had warfare, terror, murder and bloodshed, but they produced Michelangelo, Leonardo da Vinci and the Renaissance. In Switzerland, they had brotherly love, they had five hundred years of democracy and peace – and what did that produce? The cuckoo clock"

(2009)
... MAS PODIAM PERFEITAMENTE SER ROBALOS...



Descodificação transatlântica

(2009)
SÓ PORQUE A OFERTA VEIO DAQUI
E UMA SANTA É SEMPRE UMA SANTA




(2009)

28 November 2009

... E UM FELIZ FIM-DE-SEMANA PROLONGADO


Dodo ("A German Menagerie - Folio Collection
of 1100 Illustrations of Mammals and Birds",
Edouard Poppig, 1841)


"Se não houvesse a Europa e se ainda houvesse Forças Armadas, já teríamos tido golpes de Estado. Estamos à beira de iniciar um percurso para a irrelevância, talvez o desaparecimento, a pobreza certamente". (António Barreto aqui)

(Fuga de capitais atinge recorde este ano)

(2009)
E TUDO POR CAUSA DA MERDA DE UNS ROBALOS!...
("esta história é verdadeira")



Vara diz que só recebeu robalos e equipamento desportivo

(2009)

27 November 2009

CONFIRMA-SE: HOUVE MESMO ESPIONAGEM!



Face Oculta: suspeitos terão sido avisados das escutas

... e por aqui se demonstra também a urgência de elevar as competências tecnológicas das massas populares.

... e (isto ameaça transformar-se num fumegante comboio de conjunções copulativas - sendo que a "cópula" parece particularmente apropriada ao contexto) mais agentes secretos em acção.

(2009)
O PENSAMENTO FILOSÓFICO PORTUGUÊS (XXXIII)

Professora Clara de Almeida




A academia portuguesa está a mudar e a adaptar-se aos tempos radiosos da Nova Era. Já conhecíamos os casos do Professor Doutor Joaquim Fernandes - sumidade da ovnilogia na Universidade Fernando Pessoa ("reconhecida de interesse público pelo D.L. nº 107/96 de 31 de Julho"), e da UNIPAZ/Universidade Internacional da Paz, ("reconhecida pela Câmara Municipal de Lisboa como entidade de elevado valor educativo e cultural"). Importa, agora, dar o justíssimo destaque à Professora Clara de Almeida: licenciada em Economia pelo ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão) em 1973, "nos tempos heróicos de antes do 25 de Abril, com muitas lutas universitárias e espírito académico", tem um Mestrado em Comportamento Organizacional do ISPA (Instituto Superior de Psicologia Aplicada) e é docente de Marketing no ISEG na licenciatura em Gestão e em várias pós graduações.



Verdadeiramente importante, no entanto, é a sua busca "da integração holística: faz dela o seu Graal, do Estudo a sua lança, do Amor o seu Escudo e da Luz a sua Armadura". Desenvolvendo um pouco, "desde 1992 que se dedica a actividades apelidadas de 'esotéricas'. Praticante e instrutora de yoga e também Mestre de Reiki, lida com energias subtis de forma natural e aberta. A sua actividade de eleição na área esotérica é a Numerologia, tendo participado em muitos programas de televisão e de rádio apresentando esta especialidade. (...) Vê a vida como uma cadeia de causas e efeitos, não acredita na sorte nem no azar, acredita em Anjos e tem dúvidas se realmente o Pai Natal não existe. (...) Acredita que tem uma missão, conhece algumas das vidas que já viveu e acha que o Amor é o Supremo Dom que nos foi legado e que nos cumpre praticar incondicionalmente". Integra ainda a equipa do espaço Ser Inteiro - polo de Vibrações Positivas envolvido, este ano, no I Congresso Internacional de Sincronização com o Planeta Terra - e publicou já Manual de Numerologia: a Magia dos Números na Sua Vida, O Livrinho da Numerologia, Histórias Reais de Reencarnações e Numerologia Kármica ("que entra em outras dimensões da Numerologia, desvendando mistérios de vidas passadas").

Saudemos, pois, mais uma visionária que, na senda do Professor Doutor Joaquim Fernandes, ousa "desobeder à lógica e aos saberes da Ciência" e "desafiar o cartesianismo estéril".


Obra publicada online: 1, 2, 3 e 4

(2009)

26 November 2009

EDIR LA PIPE



Com o encerramento da "Revista Plenitude" - que, de Janeiro a Setembro, foi distribuída gratuitamente com o "Público" - todos aqueles que, mensalmente, esperavam pelas sábias palavras do bispo Edir Macedo para os guiar no caminho da santidade tal como a IURD a vê, ficaram, de súbito, cruelmente privados da orientação do seu pastor. É, muito em particular, a esses que se recomenda a consulta regular do seu blog, sempre riquíssimo em ensinamentos e dicas essenciais para a elevação espiritual. Exemplificando:

Pergunta:
Bispo! Quero saber se sexo oral é pecado? É uma dúvida minha e de meu marido. Obrigada por suas orientações!
Amanda

Resposta:
Amanda: A Palavra de Deus não fala nesse assunto em detalhes, mas como já escrevi num blog passado, tudo depende da sua fé. Se a sua consciência dói, é porque é pecado para você. Se não, é porque não é. Qual é a sua fé? (aqui)

Por outras palavras, "ceci est (ou n'est pas) une pipe".

(2009)
POIS É, DA FILOSOFIA E DA CRÍTICA DE MÚSICA SÓ SE PODE ESPERAR DESGOSTOS E DÍVIDAS...



Basta ver ao ponto que chegou um optimista antropológico e Tarzan da crítica musical: até o coração sangra ao ler tão triste história.

(2009)



Foto de Man Ray, 1921



Foto de Man Ray, 1921



Johnny Depp posing as Marcel Duchamp
posing as Rrose Sélavy, by Robert Wilson




(2009)
COMO DIRIA O SR. MANUEL TEIXEIRA
"UM HOMEM NÃO É DE FERRO, NÃO É?"
 
  
Pombo-correio entrega "billet-doux" de Wanda ao Sumo Patífice, Wojtyla 
 
"Terão João Paulo II e a psiquiatra Wanda Poltawka vivido uma história de amor? Se não foi isso, que outros laços uniam os dois para justificar a intensa troca de correspondência entre o 'Papa da solidariedade' e a sua amiga polaca, ao longo de 55 anos? O Vaticano quer saber tudo, antes de avançar com o processo de beatificação de Karol Wojtyla. 'São 55 anos de correspondência, uma vida. Portanto, será preciso pesquisar mais para evitar problemas futuros, inclusive porque não é comum uma troca tão ampla de cartas entre o Papa e uma amiga de juventude', disse ao jornal 'La Stampa' o cardeal português José Saraiva Martins , responsável emérito pela Congregação para a Causa dos Santos, que deu início ao processo de beatificação (...) De acordo com Saraiva Martins, toda a correspondência pessoal de Karol Wojtyla deveria ter sido entregue durante a fase diocesana do processo, em Cracóvia, Polónia. Agora que o processo já chegou a Roma, será preciso mais tempo de trabalho por parte da comissão do Vaticano, composta por oito teólogos". (aqui) ... e ainda o engenheiro técnico da Independente se queixa das escutas... (2009)

25 November 2009

PORTUGAL NUMA CASCA DE NOZ (I)



Ora reparem lá como não vale a pena gastar um tusto num curso de sociologia. Está tudo aqui:

"A população de Carvalho, onde Rui Pereira, 26 anos, era padre e onde vivia Fátima, 18 anos, está do lado do casal que, por amor, fugiu daquela freguesia de Celorico de Basto no final da semana passada para parte incerta. 'Um homem não é de ferro, não é? Se ele gostava dela e ela dele, acho que fizeram bem', defende ao DN Manuel Teixeira, 36 anos, proprietário do café Bons Costumes, do outro lado da estrada que o separa da igreja de Carvalho".

1º - Rui é um exemplo de jovem português que faz pela vida: há, para aí, 8 anos, quando tinha a idade que a Fátima tem agora, confrontado com as incertezas do futuro, optou pela decisão mais segura: ser padre, isto é, cama, mesa e roupa lavada para o resto da vida, sem correr o risco de ir engordar as casas decimais do desemprego. Muito melhor e mais confortável do que emigrar, com o "fringe benefit" da respeitabilidade campesina.

2º - O Rui é padre mas, moço luso de sangue vermelho - como diz o sr. Teixeira (proprietário de um café que, note-se, dá pelo nome de "Bons Costumes"), "não é de ferro, não é?" -, não conseguia lidar com a catraia que o "ajudaria nas lides da igreja, seria uma espécie de secretária", mantendo as mãos apenas ocupadas com o missal, o cálice e as hóstias. Não é caso único: muitos outros, antes dele, tiveram idênticos problemas com as secretárias. E nem todas se chamavam Fátima o que, para um eclesiástico, deve dar um picante assaz particular.



3º - Não deve passado muito até que, como diria a Suelly que exerce a arte real no "Fruto Proíbido", de Mondim, "tenha rolado um clima". E o bom povo que, certamente, organiza excursões anuais à outra Fátima, pelo 13 de Maio, está solidário e compreende. É bonito e é assim mesmo que deve ser. Até porque o padre Rui foi "sempre muito devoto às coisas da igreja, era muito organizado, e queria sempre tudo direitinho".

"'Ele por um lado fez bem, por outro fez mal porque vamos ficar sem padre', lamentou Tânia [empregada de balcão no Bons Costumes]".

4º - Sábio espírito prático, o da Tânia. Ninguém se amofina que o padre Rui e a Fátima (cuja madrinha era "filha biológica" da família de que ela era "filha adoptiva" - notar a temática arreigadamente portuguesa e contemporânea) tenham preferido os valores da carne aos do espírito. Mas quem é que vai, agora, limpar o pó ao véu da Nossa Senhora e baptizar o Sandro Felício, quando, em Agosto, ele voltar com os pais de Clichy-sur-Vidange? Não foi com rupturas sociais destas que se construíram as grandes pátrias.

"Manuel Teixeira aproveita para lembrar que não é o primeiro caso de amor: 'Já o anterior padre, de quem gostávamos muito, também foi embora, expulso pela diocese de Braga, depois de se ter envolvido com uma mulher'. E Tânia solta, entre risos, a resposta: 'É que as mulheres aqui são como as sardinhas, pequeninas, mas muito bonitas!'". (aqui)

5º - Lá está, as cachopas têm o diabo no corpo e os pobres moços acabam por ser as vítimas inocentes. Se a diocese de Braga tivesse juízo e assobiasse para o ar, era só ver como se multiplicavam as vocações para o sacerdócio! Para o quadro sociológico ser perfeito, só falta uma peça indispensável: a bola. Mas quase jurava que, aos fins de semana, o Rui ia dar uns toques no campo do Celoricense.

(2009)
CONHECER A VIZINHANÇA



Por aqui, fico, pois, a saber que a boa nova do partido da filósofa Laurinda chegou a 251 vizinhos; que há, nas redondezas, 40 elocutores compulsivos da frase "o que fazia falta eram 10 Salazares!" (e não devem estar todos estacionados na praça de táxis, ali ao fundo); que, vá lá saber-se porquê, houve 66 almas que se lembraram de votar no PND; que 10 inexplicáveis criaturas se deixaram convencer por estes pândegos; e que - para além de mim - mais 163 fregueses votaram nulo (ou, então, estão a precisar de mudar de lentes). Tudo isto, naturalmente, altera de forma irremediável o olhar que se lança em volta quando se está a tomar a bica ao balcão.

(2009)

24 November 2009



Marcel Duchamp e Eve Babitz (Julian Wasser, 1963)


M. D. (Jacqueline Matisse Monnier, 1950)


M. D. (Kay Bell Reynal, 1952)

(2009)
CRAP DETECTOR WANTED



Morrissey - Swords

Por um pagamento justo mas não exorbitante, ofereço-me, desde já, para ser responsável pelo primeiro álbum verdadeiramente fundamental da carreira a solo de Morrissey, desde Vauxhall And I (1994). O que nem sequer exigirá um esforço desmedido mas apenas um apurado "crap detector", capaz de, por entre Southpaw Grammar (1995), Maladjusted (1997), You Are The Quarry (2004), Ringleader Of The Tormentors (2006) e Years Of Refusal (2009), incinerar todos os desnecessários resíduos e preservar as mais do que suficientes pérolas que (especialmente os três últimos), indiscutivelmente, contêm. A lógica não seria exactamente a do Best Of mas, antes, a de procurar religar, neste percurso, aqueles que foram os momentos em que Morrissey evitou pôr o pé em falso e, de meio disco conseguido em meio disco falhado, reconstruir-lhe um reportório à altura, que não nos deixe eternamente a suspirar pelo paraíso perdido dos Smiths.



De Swords – compilação de 18 lados-B de singles dos seus três últimos álbuns de estúdio –, não haveria enorme contribuição. O que, sendo Morrissey um fiel do velho Culto da Arte Perdida do Single (cujo grande segredo só revelado aos iniciados superiores consiste no conhecimento de que é nos lados-B que devem ser procurados os maiores tesouros), é assaz surpreendente. Mas sobreviveriam, certamente, o ternamente sórdido "Christian Dior" (“Christian Dior, you wasted your life sensually stroking the weaves of a sleeve, you could have run wild on the backstreets of Lyon or Marseille, reckless and legless and stoned, impregnating women or kissing mad street boys from Napoli who couldn’t even spell their own name”), o rebuçado envenenado dedicado ao LAPD, "Ganglord" (“They say ‘to protect and serve’, but what they really need to say is get back to the ghetto”) ou, apenas pelo oh quão morrisseyano título, "My Life Is A Succesion Of People Saying Goodbye". Que, pensando bem, poderia ser o mesmo do tal álbum que o traria de volta ao Olimpo das divindades pop.

(2009)
E, A POUCO E POUCO, UM POR UM, OS RATINHOS VÃO SAINDO DA TOCA



"[António Vaz Carneiro, director do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência] Defendo apenas a vacinação de grupos de risco muito selectivos. Fundamentalmente porque acho que esta doença não tem gravidade suficiente que justifique a vacinação maciça. Entendo que, como neste momento o impacto global da doença na população portuguesa, comparando com outras, não é tão importante como isso, então a despesa envolvida não se justifica. É só nesta altura que uso o argumento do dinheiro. Há quem calcule que o gasto [todos os custos com a doença] já ascende a 67 milhões de euros. Não é razoável. Então os portugueses continuam a morrer tranquilamente de doenças cardiovasculares e estamos todos preocupados com a gripe?

Acha, portanto, que o investimento que se fez nesta vacina (45 milhões de euros) não se justifica?
Na minha opinião, não.

A verdade é que a maior parte dos governos nos países ditos civilizados aderiram a uma vacinação em massa. Porque terá isto acontecido, então?
Este é o case-study mais interessante que os media podiam e deviam estudar. Os governos reagiram hipervalorizando o risco. Foram decisões políticas.

Mas foi a OMS que declarou a pandemia de gripe e a sua posição foi determinante para que se chegasse ao cenário actual.
Sim, mas a OMS, na minha opinião, sai muito chamuscada desta situação. A posição da OMS é insustentável, errada. O impacto desta doença é pequeno e os recursos são escassos. Então vou eleger como prioritário, como problema central da minha política, o problema da gripe? Agora, quando todos os governos decidem comprar maciçamente vacinas é muito difícil que o Governo português não o faça também. A minha crítica é que isto vai provocar uma disrupção na comunidade, o que é inaceitável.

E o papel das autoridades de saúde?
As autoridades não foram capazes de desdramatizar a situação, entraram num comboio que não conseguiram parar e neste momento há problemas fascinantes como o da França - que encomendou 90 milhões de doses - e está a tentar desesperadamente colocar no mercado mundial 45 milhões de doses, porque só 50 por cento dos franceses se vão vacinar. Entraram por um caminho sem retorno. (aqui)



O presidente da Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, Miguel Oliveira da Silva, não concorda com a vacinação em massa e não vai vacinar-se: "Se não me vacino habitualmente para a outra [a sazonal] porque é que me vou vacinar para esta, que sei que não é mais grave?". "Acho que houve um alarmismo exagerado e um certo aproveitamento político", defende. Se a taxa de adesão continuar a ser inferior ao que se esperava - não só do lado dos profissionais de saúde, mas também da população em geral -, o médico deixa uma questão face à possibilidade de sobrarem metade das vacinas: "Quem vai ser responsabilizado por ter mandado para o lixo 22,5 milhões de euros [Portugal encomendou seis milhões de doses no valor de 45 milhões de euros]?" (aqui)

... e nunca será demais (re)passar por aqui.

(2009)

23 November 2009

CITY GHOSTS (XXXIV)

Lisboa, Portugal, 2009















(2009)
E ASSIM LITERALMENTE SE ESFUMARAM
AS REDUZIDAS HIPÓTESES DE ALGUMA VEZ
EU VIR A SER CLIENTE DO ESTEVES TRABALHO...




"A Apple é acusada de não prestar assistência técnica a computadores de clientes que fumam, alegando que os aparelhos estão 'contaminados' e podem prejudicar a saúde dos técnicos". (daqui)

... a menos que o Tarantino queira passar da ficção à realidade e comercializar a sério a sua "cigarette brand":



(2009)
PEHDTSCKJMBA



Tom Waits - Glitter And Doom Live

Procurem, no YouTube, a conferência de imprensa de lançamento do “Glitter And Doom Tour”, de Tom Waits, no início de Maio do ano passado. Sob o ruído de aclamações e risos, uma voz pergunta-lhe “quem planeia as tournées?”. Sempre em plano fixo, muito didacticamente, Waits responde: “Não têm nada de aleatório. Se pensarmos, desde o princípio dos tempos, sempre olhámos para o céu nocturno, em busca de orientação”. E faz descer um mapa dos EUA, para o qual aponta: “Se ligarmos as cidades, nesta rota pelo grande sudoeste, que começa em Phoenix, no Arizona, descobrirão um padrão que começa a emergir e que corresponde à constelação de Hidra. Reparem, agora: a primeira letra de cada cidade, forma aquilo a que chamamos um acrónimo: ‘PEHDTSCKJMBA’. Vamos, então, decifrá-lo. Acompanhem-me: ‘People envy happiness; dogs, though, sense courage, knowing jubilation means better ass...ets’. Muito profundo. Recordemos, pois, a palavra-chave desta digressão de Verão: PEHDTSCKJMBA”. E, pouco depois de ter convidado os presentes a entoar colectivamente o mantra, retira-se da mesa e o plano abre-se sobre uma sala com meia dúzia de assentos vazios.



O traçado de PEHDTSCKJMBA tem uma relação tão duvidosa com a configuração de Hidra como a justificação que, em 2006, Tom Waits apresentou para outra digressão (“Preciso de ir ao Tennessee comprar fogo de artifício e há um tipo que me está a dever dinheiro no Kentucky”); mas ambos fazem absoluto sentido no seu peculiar universo privado. Em palco, de Milão a Knoxville, de Tulsa a Paris, de Dublin a Atlanta, Edimburgo, Jacksonville, Birmingham e Columbus (as dez cidades de que Glitter And Doom Live cola fragmentos dos respectivos concertos, como se de um único espectáculo se tratasse), o sentido amplificou-se de tal modo que a definitiva consagração chegou sob a forma de rendição incondicional, traduzida em declarações de vassalagem tais como “duas demasiado curtas horas de música, poesia, mímica, vaudeville, contorcionismo, murmúrios, rugidos, amor, surpresa, a doce e escassa ditadura do inesperado”, “uma viagem às fontes do cancioneiro americano de onde se regressa com uma teoria alternativa da sua evolução”, “por um lado, 'performance art', por outro, 'roadhouse blues revival', é como uma expedição atribulada através de uma sala de espelhos quebrados” ou “fica-se com a sensação de que não comprámos um bilhete para um concerto mas sim para um outro mundo”.



Para quem lhe conhece a obra e, especialmente, para os que já provaram do opulento banquete agridoce que é um concerto de Tom Waits, não é necessário qualquer acto de fé para acreditar nestas palavras. Mas, na versão do circo-PEHDTSCKJMBA (manifesto alternativo: “Vamos para o Sul profundo, onde ainda se aprecia um homem que veste calças vermelhas e o fazem sentir-se em casa”) e sua extensão europeia – acompanhado por Seth Ford-Young (contrabaixo), Patrick Warren (teclados), Omar Torrez (guitarras), Vincent Henry (sopros), e pelo fillho, Casey Waits (bateria e outras percussões) –, a marmita a ferver de blues, nacos de calipso, country, soul e cabaret, ossadas roídas de tango e boogie, batucadas em pântano vudu, beatas chupadas de jazz, pregação demente e surreal ciganagem estética generalizada, cozinhou o tipo de riquíssimo caldo alimentar – dezassete colheradas, predominantemente recolhidas nas últimas duas décadas de actividade do chef Waits – cuja digestão exige ser prolongada mas que, mesmo sem inclusão de estimulantes espirituosos ou outros, transporta o corpo e a alma para aquele estado de beatitude pós-prandial só reservado aos grandes pecadores. Para rebater, um segundo CD de “Tom Tales” acerca de abutres, sopas de suásticas, o eBay, legislação esotérica e rituais de acasalamento dos insectos.

(2009)

22 November 2009

ABAIXO O RESGATE!!!

16 corpos de vítimas do acidente com o voo 447 foram recuperados
 
O código restrito vocabular dos "neanderthal" redactores de material noticioso atingiu, nos últimos anos, o nadir absoluto e o seu símbolo maior é "o resgate": não há homem, nem mulher, nem gato, nem cão, que, preso num desabamento, num navio à deriva, num incêndio, num acidente, num atentado, num elevador ou num poço, não tenha de ser... "resgatado". Suplica-se-lhes que se apercebam que, em rigor, "resgatar" alguém, implicitamente, pressupõe um "rapto" ao qual se poderá pôr termo através do pagamento de um "resgate". E que, mesmo alargando o campo semântico, e aceitando (generosamente) que "resgatar" possa ser utilizado neste contexto, há sinónimos suficientes para não nos massacrarem, implacavelmente, os tímpanos com o "r word": salvar, libertar, desencarcerar, soltar, desembaraçar, recuperar, livrar. Eternamente grato. edit: já agora, as "evidências" preferem ser tratadas como "provas". (2009)
AS "TESES DE ROMA" DO PRESIDENTE RATZINGER


"O Papa Bento XVI recebeu ontem 260 artistas aos quais pediu que não tenham medo de dialogar com os crentes, garantindo ao mesmo tempo que a Igreja quer 'restabelecer a amizade com os artistas'. (...) O Papa pediu também aos artistas que transmitam a verdadeira beleza da arte, recusando as formas de 'propaganda' e ilusão que ela por vezes traduz. 'Trata-se de uma beleza sedutora mas hipócrita, que desperta' a vontade de poder, de 'prepotência sobre o outro', assumindo o rosto da 'obscenidade, transgressão ou provocação'.

Oh quão delicioso e santíssimo matrimónio estético/teológico entre o pensamento filosófico português do Diácono Remédios e as Teses de Yenan do Presidente Mao Tsé-Tung!... *

"O poeta José Tolentino Mendonça, um dos convidados presentes, resumiu ao 'Público' a forma como leu o discurso de Ravasi [Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura]: "Ele criticou alguma arte contemporânea auto-referenciada e fechada nos seus próprios limites, mas disse também que a Igreja deixou de lado a questão estética e tem repetido acriticamente modelos do passado e não tem construído uma estética moderna e contemporânea". (aqui)

Enquanto aguardamos, então, com mal disfarçada ansiedade, o "Livrinho Vermelho" do Presidente Ratzinger, sugere-se que, numa manifestação de abertura ao "diálogo inter-confessional", o Sumo Patífice aceite considerar a proposta FlorCaveira:



* "Some works which politically are downright reactionary may have a certain artistic quality. The more reactionary their content and the higher their artistic quality, the more poisonous they are to the people, and the more necessary it is to reject them" (Teses de Yenan, Mao Tsé-Tung).

(2009)
ANTÓNIO JOSÉ "BALDRICK" MORAIS

"I have a cunning plan"

Depois das tropelias da "Cova da Beira" ("Cova da Beira, so much to answer for..."), da pluridocência na Universidade Independente em prol das turbo-licenciaturas, e de mil e um outros trepidantes "cunning plans", "Baldrick", segundo o "Expresso", "está na mira do Ministério Público em mais dois inquéritos-crime (...) por suspeitas de branqueamento de capitais e pelo modo irregular como alegadamente foi gerida a construção de esquadras de polícia e quartéis da GNR na época em que era responsável por todas as obras e novos equipamentos de comunicação do Ministério da Administração Interna", para o qual entrou, em 1995 - quando era professor de Sócrates, na Independente -, como assessor do Secretário de Estado, Armando Vara (também licenciado pela practicamente "Ivy-Leaguer", Independente).


(2009)

20 November 2009

2 + 2


"O homem forte na investigação da PJ no combate à criminalidade informática [o inspector chefe da Polícia Judiciária, Rogério Bravo] sublinhou, esta quinta-feira, que a maior parte da criminalidade económico-financeira praticada em Portugal recorre à informática e alertou para o facto da nova lei do cibercrime ser muitas vezes inexequível. '[A nova lei do cibercrime] rouba-nos a oportunidade de sermos eficazes, portanto não tenho fé nenhuma na aplicação concreta destas legislações atabalhoadas que vão saíndo', afirmou Rogério Bravo. (...) Lamentou ainda que 'numa altura em que se quer combater tanto o branqueamento e evasão fiscal, fica de fora mais um instrumento que nos permitiria reforçar o combate [a estes crimes]'".(aqui)


"O presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) afirmou, esta sexta-feira, em declarações à TSF, concordar com o inspector-chefe da PJ responsável pelo combate à criminalidade informática, para quem a nova lei do cibercrime favorece os criminosos e não os investigadores. António Martins defendeu assim que a lei em causa deve ser alterada. (...) Exemplificou que numa operação em que estejam envolvidos cinco computadores de arguidos, 'o juiz tem um prazo de 72 horas para abrir e validar todos os e-mails trocados', sublinhando que esse período não chega para aceder a, por vezes, 15 a 20 mil mensagens de correio electrónico. (...) 'A sociedade não pode continuar a viver com leis que são feitas por quem não conhece a realidade' e, consequentemente, não sabe as implicações práticas do que escreve, disse. (aqui)


O meritíssimo juiz vai desculpar-me mas, certamente, acabou de desembarcar de um dos ONVIS que o Professor Doutor Joaquim Fernandes tanto aprecia. É que é exactamente ao contrário: as leis de que fala são feitas por quem conhece perfeitissimamente a realidade e sabe muito bem as implicações práticas do que escreve. E por isso mesmo as redige assim e não de outro modo.

Ora experimente lá somar
2 + 2... isto não podia facilmente ter sido evitado?...

(2009)
ARQUIVO HISTÓRICO


Portrait of the Artist as a Young Dog
(clicar na imagem para ampliar)


(2009)

19 November 2009

A LÂMINA DE OCCAM


(daqui)

Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem

+ "2012"

(2009)
MY SAD AND FAMOUS SONGS



Leonard Cohen - Live At The Isle Of Wight 1970

“Sempre senti uma certa irmandade com o que se passa em todas as épocas. Mas a verdade é que nunca estive (e continuo a não estar) no centro dos acontecimentos. Senti-me próximo da 'beat generation' e, apesar de não ter feito, realmente, parte dela, conheci Ginsberg, Kerouac e Corso. Antes deles, também me dava com aqueles a quem chamávamos os ‘boémios’, frequentava os seus cafés em Montreal, embora não fosse um deles. Os hippies não me interessaram especialmente, em particular, quando começaram a poluir os rios e a deixar lixo por todo o lado, quando iam para o campo adorar Deus e a Natureza. Eram péssimos campistas! Eu, que fui escuteiro, posso dizê-lo...”, disse-me Leonard Cohen, vinte e quatro anos depois de ter actuado no festival da ilha de Wight, perante uma matilha de meio milhão de hippies raivosos contra a feroz "exploração capitalista" que lhes cobrava a exorbitância de meia dúzia de libras por seis dias (de 26 a 31 de Agosto) em que escutaram, ao vivo, Kris Kristofferson, Gilberto Gil, John Sebastian, Joni Mitchell, Miles Davis, Sly & The Family Stone, Family, os Who, os Pentangle, Richie Havens e Jimi Hendrix, entre outras menoridades (porém, maioridades, à época) como Donovan, Moody Blues, Doors, Chicago, Ten Years After, Emerson, Lake & Palmer, Free, Jethro Tull e tutti quanti.



O p.o.v.o. revolucionário estava em fúria, uivava perante os portões fechados, mas, pelas quatro da matina, um Leonard Cohen acabado de acordar, severamente encardido – ao lado de Corlynn Hanney, Susan Musmanno e Donna Washburn, impecavelmente maquilhadas -, e uma banda de country-folk capaz de humilhar toda a seita "psych" contemporânea, pouco depois de ver acrescentadas labaredas amotinadamente reais ao palco a que, antes, Hendrix lançara fogo musicalmente metafórico, domesticou, facilmente, as hostes. “They gave me some money for my sad and famous songs, they said the crowd is waiting, hurry up or they’ll be gone, but I could not change my style and I guess I never will, so I sing this for the poison snakes on Devastation Hill”. "Devastation Hill" (nome oficial: "Desolation Row") era o nome do acampamento dos "radicais livres", que o documentário de Murray Lerner (DVD e CD gémeos) ilustra em toda a sua suja realidade. Levaram com Diamonds In The Mine. E com quase todo o Cohen de rasgar as veias da época – entre Songs Of Leonard Cohen e Songs Of Love And Hate. E calaram-se. Como deviam. Hoje, os mesmos, acham-no um "cantor de charme".

(2009)
BOB DYLAN - "MUST BE SANTA"
(de Christmas In The Heart)



(2009)

18 November 2009

AINDA E SEMPRE A ÍNCLITA GERAÇÃO DO 
"CLUBE DOS AMESTRADOS DE BOSTON"


(clicar na imagem para ampliar a amestrada de Boston)

Alguns degraus mais abaixo, já lá tinha estado um (ver link no final de "Esta gente realmente não se enxerga"). Agora, chegou outra ao topo da cadeia alimentar. É a chamada mobilidade social ascendente. (caçado aqui)

(2009)
SUFJAN STEVENS - THE BQE (VII)










keepvid

(2009)