30 March 2010

PRONTO, ACABOU-SE, ESTÁ TUDO EXPLICADO: 
SÃO, LITERALMENTE, COISAS DO MAFARRICO


Saint Wolfgang and the Devil - Michael Pacher (c. 1483)


... e olhem que se trata de uma sumidade com um CV à prova de bala: exorcista-chefe da Vaticano S.A. há 25 anos, já lidou com - preparem-se... - 70 000 casos de possessão demoníaca. Respect!

(2010)
AND OUR FRIENDS ARE ALL ABOARD
MANY MORE OF THEM LIVE NEXT DOOR




Caso dos submarinos portugueses rebenta na Alemanha

In the town where I was born,
Lived a man who sailed to sea,
And he told us of his life,
In the land of submarines

(...)


And our friends are all aboard,
Many more of them live next door,
And the band begins to play.


(...)

As we live a life of ease
Every one of us has all we need,
Sky of blue, and sea of green,
In our yellow submarine


(2010)
AINDA O FILÓSOFO GONÇALVES
(e, francamente, já chega,
a menos que outros muito
violentos petardos estoirem)




Pelo Rui Miguel Abreu (parte II aqui), via Gross.

(2010)
ISTO DE SER CONSERVADOR, CRISTÃO
E DE DIREITA ESTÁ A FICAR LIXADO... (I)




... é a escandaleira pedófila da padralhada, façanhudos republicanos anti-gay caçados com a boca na botija , o presidente do Comité Nacional do Partido Republicano gastando liberalmente o dinheiro dos doadores do partido em clubes BDSM... uma criatura não exactamente de direita e agóstico-ateia até começa a sentir-se enjoativamente xoninhas.

(mas reparem como o filósofo Gonçalves, no fundo, no fundo, tem razão: este tal de Steele apesar de ser, potencialmente, um dos "pretos" de que o filósofo gosta, era de opinião que o Partido Republicano precisava de um "hip-hop makeover"... nada como uma clara e rigorosa definição estético-ideológica)

(2010)
LITERATURA INFANTIL RECOMENDADA
(pelo "Huffington Post" e, quase toda, também pela Vaticano S.A.)















(2010)

29 March 2010

TERRA INCÓGNITA



The Knife in collaboration with Mt. Sims and Planningtorock - Tomorrow, In A Year

“Posto que muitos pontos sejam ainda bastante obscuros e assim ainda permanecerão durante muito tempo, vejo-me, contudo, após os estudos mais profundos e uma apreciação fria e imparcial, forçado a sustentar que a opinião defendida até muito recentemente pela maioria dos naturalistas, opinião que eu próprio partilhei, isto é, que cada espécie foi objecto de uma criação independente, é absolutamente errónea. Estou plenamente convencido que as espécies não são imutáveis; estou convencido que as espécies que pertencem ao mesmo ‘género’ derivam directamente de qualquer outra espécie ordinariamente distinta, do mesmo modo que as variedades reconhecidas dessa espécie, seja qual for, derivam directamente dessa espécie; estou convencido, enfim, que a selecção natural tem desempenhado o principal papel na modificação das espécies”.



Escrita, em 1859, na introdução de Sobre a Origem das Espécies por Meio da Selecção Natural, este é o género de declaração que permite, sem dúvida, afirmar que, se Deus morreu, Marx morreu e nós próprios não nos sentimos mesmo nada bem, Charles Darwin, esse, não poderia estar mais vivo. E – como uma inquietante multidão de criacionistas parece apostada em demonstrá-lo todos os dias – ainda muito capaz de continuar a provocar tumultos e sobressaltos num mundo em que o pensamento pré-científico permanece mais enraizado do que gostaríamos de imaginar. Daí que, todas as celebrações que ocorreram em 2009, por ocasião do 150º aniversário da publicação da obra fundadora do neto do não menos fascinante Erasmus Darwin, não tenham sido demais. Muito em particular, aquelas que aconteceram fora do âmbito estritamente científico, como é o caso deste Tomorrow, In A Year, ópera/performance encomendada pela companhia de teatro dinamarquesa Hotel Pro Forma ao duo electro sueco The Knife.



Estreada em 2 de Setembro passado no Teatro Real de Copenhaga e dirigida por Ralf Richardt Strøbech and Kirsten Dehlholm, pretendia mostrar “o mundo visto através dos olhos de Charles Darwin” e, ao mesmo tempo – tomando “o género operático como DNA” –, investigar “as relações entre imagem, narrativa, movimento e música” no sentido da criação de “uma nova espécie de electro-ópera”. O terreno, evidentemente, não é virgem: desde United States I-IV, de Laurie Anderson, às colaborações de David Byrne ou Tom Waits com Robert Wilson, os caminhos da ópera e da pop-e-tudo-à-volta, para o melhor e para o pior, já se cruzaram um razoável número de vezes. Mas, provavelmente, um tal projecto não terá sido nunca entregue aos cuidados de alguém como Olof Dreijer (a metade masculina de The Knife, irmão da outra metade, Karin Dreijer Andersson) que, candidamente, confessa “nunca ter assistido a uma ópera e desconhecer mesmo o que a palavra ‘libretto’ significava”.



Não foi, porém, obstáculo inultrapassável. Olof e Karin aplicaram-se na escuta de Meredith Monk, Luigi Nono, Diamanda Galas, Joan La Barbara, Klaus Nomi, Penderecki e Stockhausen, muniram-se de "field recordings" de sons da Amazónia e Islândia, desmembraram e atonalizaram radicalmente o perfil musical que lhes conhecíamos de Silent Shout ou da aventura colateral de Karin, Fever Ray, recorreram às vozes da cantora lírica Kristina Wahlin, da actriz Laerke Winther e do singer-songwriter Jonathan Johansson, praticaram um exercício de quase "cut-up" sobre os textos de Darwin, e – não esquecendo que apenas temos acesso ao registo sonoro de um espectáculo de teatro, dança e música – edificaram uma obra literalmente monumental de música electrónica-concreta-electro-pop que reinvindica ser digerida em regime de dedicação exclusiva. Não de forma tão extrema como (as proto-óperas) Tilt ou The Drift, de Scott Walker (aqui, ainda se encontram bússolas orientadoras para esta expedição por terra incógnita) mas não menos exigente do que a aventura do Beagle.

(2010)
L.H.O.O.Q.



"A ampliação da casa conhecida por ter painéis de azulejos de Almada Negreiros, na Rua de Alcolena, em Lisboa, vai 'descaracterizar e destruir' aquele que é 'um dos mais belos e raros exemplos de diálogo inter-artes em Portugal no século XX'. Quem o diz é a historiadora de arte Barbara Aniello, que acusa a câmara de Lisboa de ter autorizado uma obra com consequências tão devastadoras 'como fazer bigodes à Gioconda'". (daqui)

Pelos vistos, certas historiadoras de arte baldaram-se às aulas sobre Marcel Duchamp e o Dadaísmo.

(2010)
FALAI NO MAU, PREPARAI O PAU
(sem qualquer segundo sentido, deusmelivre)



O antigo bispo do Funchal, D. Teodoro de Faria, considera «um exagero» as críticas feitas à Igreja por causa dos casos de pedofilia, alegando que «todas as classes têm defeitos deste género»

(2010)

28 March 2010

STREET ART, GRAFFITI & ETC (XL)

Lisboa, Portugal, 2010















(2010)
SQUASH



Porque o filósofo Gonçalves se socorre desse argumento com a perspicácia que o caracteriza, arrume-se já a questão: quase exactamente há três anos, o episódio-Stephin Merritt (consideravelmente diferente do que o filósofo supõe) tinha sido aqui referido enquanto ilustração da posição simétrica - logo, idênticamente obtusa - da tese gonçalvista. Quanto ao restante rosário de sapientes asserções, aplica-se o proverbial "estudasse!". Mas até tem sorte: já houve quem lhe mastigasse a papinha aqui e aqui. Por mim, desenrascava-se sozinho se quisesse.

Dito isto, é importante ter a noção que se trata de pura perda de tempo: quando o filósofo Gonçalves qualifica como "esteticamente miseráveis uns 95% (contas por baixo) da música popular produzida após 1955", compreende-se rapidamente que a ele cabe desempenhar o papel da parede numa partida de squash - a bola nunca passa para o outro lado, bate na impenetrável barreira e volta, igualzinha, para trás.

(2010)
O PENSAMENTO FILOSÓFICO (EXTRAORDINARIAMENTE) PORTUGUÊS (XLIII)

Zeinal Bava




(2010)
O PENSAMENTO FILOSÓFICO PORTUGUÊS (XLII)

David Fonseca




"Há muitos sítios a que, curiosamente, nunca fui, o que é estranhíssimo" ("Fugas"/"Público" de 27.03.10)

(2010)
SININHO HIPPIE



Joanna Newsom - Have One On Me

Estou perfeitamente disposto a admitir que o problema é meu. Até porque a explicação alternativa só poderia ir parar a uma teoria da conspiração à la Dan Brown, segundo a qual a Maçonaria, o Clube Bilderberg, a Trilateral, a Opus Dei e os Superiores Ocultos de Agartha, em coligação global, se teriam confabulado para que, em uníssono, todas as vozes críticas do universo, rendidas e deslumbradas, entoassem cânticos e louvores à sublime obra de Joanna Newsom. O que, à excepção de um ou outro "sniper", é exactamente o que está a acontecer. E, como se sabe, não é coisa apenas de agora: tanto The Milk Eyed Mender (2004) como Ys (2006) foram recebidos como a mais preciosa dádiva do "free/freak-folk" – o rótulo começa a entrar em desuso mas ainda ajuda a situar – à humanidade carente do Bom e do Belo e Joanna apresentada como a Sininho hippie por que todos esperávamos para lançar pó-de-estrelas sobre a pop.



O problema poderá ser meu mas, entretanto, darei luta. E direi que Have One On Me consegue ser três vezes pior que Ys: porque é um triplo CD; porque, no anterior, podíamos concentrar-nos nos fabulosos arranjos de Van Dyke Parks e, com algum esforço, ignorar a existência da Newsom (e, neste, isso não acontece); porque diminuir o teor “puético” de arcaísmos patetas para o substituir por platitudes do género de “Life can be difficult and lonely but we all need love” será, talvez, um início de carreira promissor na indústria da "self-help" mas não é, propriamente, um progresso. Fica, então, só uma cada vez mais pronunciada aproximação aos maneirismos vocais de gueixa mimada de Kate Bush agrafados aos agudos estridentes da Baez-diva-folk dos primórdios, alguns traços de personalidade de uma Kristin Hersh psicótica mas fofinha e um dilúvio de harpa. Se, nas próximas semanas, eu não voltar a escrever, enviem, por favor, este texto ao Dan Brown.

(2010)

27 March 2010

GLÓRIA A CASTANHEIRA! VIVA COELHO!
(último comunicado do M.A.C.A.)


Com o resultado alcançado ontem, nas directas do PSD, o candidato Castanheira de Barros castigou duramente os seus três oponentes: impediu Passos Coelho de atingir os 61.29%, Rangel de chegar aos 34.70% e Aguiar Branco de somar 3,84%. Salda-se, assim, por um histórico êxito a campanha do M.A.C.A. que, democraticamente, saúda o Coelho vencedor e recorda que foi, aqui, neste blog, que, há mais de um ano, a 2 de Fevereiro de 2009, sobre PPC - apesar de não ser o candidato que, após profundo debate ideológico, o M.A.C.A. viria a apoiar (note-se que, nem assim, o M.A.C.A. deixaria de ser o M.A.C.A.: passaria a designar-se por "Movimento de Apoio Coelho Avante!") -, foram vertidos os óleos que ungem os escolhidos ("prócere do Portugal do futuro, insígnia rutilante da social-democracia de amanhã" assim era, então, caracterizado) e, mais tarde, a 6 de Dezembro, comparado (favoravelmente) com o saudoso Bill Clinton.

É de salientar ainda todo o novo universo que, assim, se abre, igualmente, para a ciência política, que poderá, agora, recorrer a expressões como "Sócrates acena com uma cenoura a Coelho", "Pata de Coelho dá sorte ao PSD" ou "Num salto de Coelho, o PSD conquista a maioria absoluta". A maior celeridade nos processos judiciais e no funcionamento das comissões de inquérito, passará, entretanto, a designar-se por "dar uma à coelhinho".

(2010)
THE ROLLING STONES - "SYMPATHY FOR THE DEVIL"



(2010)

26 March 2010

"QUANDO É ALTURA DE UM PAPA SE DEMITIR?"


A pergunta, para não-católicos, agnósticos e ateus, deveria ser destituída de qualquer interesse. Quando o assunto, porém, passa, alegadamente (notem bem, escrevi "alegadamente"), para o domínio da chefia de um bando de malfeitores, não só se torna absolutamente pertinente como aparenta ser, eventualmente, benévola. Ainda que a resposta - uma digestão prolongada dos 9 volumes da História Criminal do Cristianismo, de Karlheinz Deschner, ajuda a compreender porquê - seja, muito provavelmente, "Nunca".


edit (27.03.10): segundo um funcionário português da Vaticano S.A., "Não devemos ficar demasiado escandalizados se alguns bispos sabiam e mantiveram o segredo. É isso que acontece em todas as famílias. Não se lava a roupa suja em público". * Pelo que não será abusivo depreender que, na "família" portuguesa - onde, até agora, à excepção do funcionário menor, Frederico Cunha, defendido ardorosamente, então, pelo cappo da famiglia madeirense ("O bispo [do Funchal] Teodoro de Faria comparava os sofrimentos do padre ao ser preso com o que Jesus Cristo sofrera ao ser crucificado"), parece reinar a mais pura castidade -, se sabe guardar muito melhor os segredos. Também é verdade que já andam em treinos, quase há cem anos, desde o famoso número de ilusionismo de Fátima.

* o que, se virmos bem, nem é muito diferente disto.

(2010)
BOM CARTAZ, JUSTA CAMPANHA



Em síntese: salvem a vida de um cão ou gato abandonado, ou em instituições, em vez de comprá-los a criadores (e os selvagens do Kennel Club que se danem).



(2010)

25 March 2010

NOTÍCIAS DE ÚLTIMA HORA DO M.A.C.A.
(Movimento de Apoio Castanheira Avante!)

CB numa grande cimeira internacional com alto dignitário africano
(em tons de verde-esperança)

A poucas horas da eleição do novo líder do PSD, o M.A.C.A. revela em primeiríssima mão os últimos posts publicados no blog do candidato Castanheira de Barros: "Nunca pertenci nem pertencerei a qualquer sociedade secreta" (de 18 Fevereiro 2010); e a notícia do "Jornal do Pau" segundo a qual "a maioria dos leitores votou contra Aguiar Branco e Passos Coelho, tendo preferido outro candidato", existindo "um leitor" (de nome Manuel Gouveia) a declarar "que vota no Castanheira Barros" (de 28 Janeiro 2010).

Só Castanheira de Barros poderá ser o legítimo sucessor da bravíssima Manuela Ferreira Leite que ousou "rebeliar-se" (é aos 3'45" que MFL se "rebelia")!

OUSAR REBELIAR-SE, OUSAR VENCER!!!

(2010)
ORA AQUI ESTÁ UM BELO TÓPICO PARA UMA ENTREVISTA
AO SUMO PATÍFICE NUM INTERVALO DO "PAPA IN RIO"



Turritopsis nutricul

A notícia, pelos vistos, já não é recente, mas descobri-a, agora, aqui. E quer-me parecer que - se a Secreta da Vaticano S.A. autorizar alguém a aproximar-se do Sumo Patífice, o que é assaz improvável (difíceis de entender estas medidas de segurança...) -, mais do que massacrar o Rotweiller-de-cristo com interrogações acerca das preferências sexuais dos seus funcionários (até porque ele já deve ter as respostas em piloto automático), seria bem mais interessante perguntar-lhe: "Então e o Turritopsis nutricul, ó Ratz? Quem diria, hein?... O vosso pessoal, durante 2000 anos, a tentar convencer-nos que, se formos à missa ao domingo, reservarmos o uso das partes pudendas para o santíssimo matrimónio de senhor & senhora (e, sempre, sempre, sem carapuça!) e jurarmos acreditar que o filho do Panthera era muito mais fixe que o Houdini, a vida eterna está assegurada. E não é que o sacana do nutricul (que, ainda por cima, é giro), sem saber ler nem escrever, nem se dar a aborrecimentos desses, praticamente desde o Big Bang que é, pois... eterno?!!!" Atirem-lhe com esta e quero ver como ele se safa.

(2010)
ACOUSTIC LADYLAND
(raccord daqui)


"Cuts & Lies" (feat. Coco Electrik)



"Thing"

(2010)
OLHA UMA LISTINHA CATITA QUE ESCAPOU AO UMBERTO ECO


Paulo II (retratado por Cristoforo dell'Altissimo)
- um mártir cristão: morreu de ataque cardíaco
durante um acto sexual com um pagem


List of sexually active popes

(parece que, desde 1585, deixaram de os contar - a Secreta da Vaticano S.A. começou a trabalhar a sério)

(2010)

24 March 2010

VATICANO S.A.: UMA EMPRESA QUE
NÃO VIOLA A "ÉTICA REPUBLICANA"




Descobertos mais padres pedófilos e vítimas

Pedofilia: Nova acusação contra padre alemão encaminhada para a polícia

Abusos sexuais dentro da Igreja ocorreram também em Espanha

... se virmos bem, no entanto, nada que vá contra a "ética republicana" tal como a entendia Teixeira Gomes, grande inspirador do hipotético "presidente poeta".

edit (25.03.10): (isto é como o "body count" nos sismos: sempre a subir) Igreja concentrou-se em evitar o escândalo e não nas vítimas - Vaticano não agiu contra padre americano que abusou de 200 rapazes

(2010)
YOU KEEP ME HANGING ON
(em sequência daqui)



Portico Quartet - Isla

Segundo reza a lenda (ainda uma pequena lenda doméstica que se agigantará ou não), da primeira vez que, numa gélida noite de Novembro, na Southbank de Londres, os percussionistas Nick Mulvey e Duncan Bellamy se entregaram à mui nobre e vetusta arte do busking – isto é, a de músicos de rua – a aventura rendeu-lhes oitenta libras. Uma fortuna comparada com o miserável fiver que Milo Fitzpatrick (o contrabaixista) e Jack Wyllie (saxofonista) recolheram, numa esquina próxima. Mais importante, no entanto, seria a reunião dos quatro sob a designação de Portico Quartet que, em dois álbuns – a estreia, Knee-Deep In The North Sea, de 2007, e, agora, este Isla –, os conduziria do "trottoir" (sem ofensa) londrino à shortlist do Mercury Prize.



Coisa não exactamente habitual numa banda que se reclama do legado musical de Reich e Glass, obliquamente, de um jazz tão livre quanto polidamente “moderno” (aqui, a referência mais imediatamente próxima só poderá ser a Cinematic Orchestra) e de uma multiplicidade de referências mais ou menos “étnicas”, dos gamelãs do Bali às estruturas cíclicas de alguma música africana. Papel central, segundo os próprios, desempenhará o "hang", um híbrido de "steel-drum" e gamelã de origem suiça e recentíssima, embora de modo muito menos vincado em Isla. Encontra-se, sem dúvida, presente e, em diversos momentos, é-lhe, de facto, confiado o papel de reorientador e ordenador da arquitectura sonora mas, pelo menos tão decisivo, é o evidente desejo de explosão combinada do sax de Wyllie e das percussões, alimentados pelo desenho tenso e sinuoso das cordas de Fitzpatrick, em momentos de libérrima improvisação. É esse o melhor Portico. Porque, quando apaziguado, cinematicamente decorativo, burguesmente “ambiental”, o quarteto escorrega, facilmente, para a "coffee-table-music".
OBJECTIF LUNE



We Choose the Moon

(2010)
CITY GHOSTS (XXXVIII)

Lisboa, Portugal, 2010















(2010)
ENTÃO NÃO É PARA ISSO QUE SERVEM AS JUNTAS DE BOYS?



Portugal precisa “de quem puxe pelo país”, diz Sócrates em Marrocos

edit: banda sonora sugerida na caixa de comentários e, instantaneamente, aceite.

(2010)

23 March 2010

NÃO PAGAMOS, NÃO PAGAMOS, NÃO PAGAMOS, NÃO PAGAMOS!
(continua, ou, no caso, "à suivre")




(por acaso, agora fiquei com curiosidade de saber se algumas daquelas nádegas se sentarão, hoje, no parlamento...)

(2010)
PLANO NACIONAL DE LEITURA



Uma desinteressada sugestão à nossa pequena Enid Blyton-amestrada de Boston, no mesmo dia em que publica nova e memorável obra: um Plano Nacional de Leitura especificamente dirigido aos seus coleguinhas de Governo, sff. Pode começar, por exemplo, pelo camarada Vieira da Silva: qualquer coisinha que, encontrando-se ele na Tunísia, o impeça de, cheio de graça, fazer declarações do género de "Há tempo para tudo na terra, não podemos colher sem semear; deve ser desta região que me está a inspirar estas frases mais bíblicas". É que o pobre, provavelmente, não só supõe que está de visita a um país árabe como - camelos, deserto, souks... - se imagina em "terras bíblicas". Veja lá o que pode fazer que isto, se não se tem mão nesta gente, ainda pode resultar em conflito diplomático.

Já com Ricardo-cada-tiro-cada-melro-Rodrigues, é preciso ir lá mais atrás: uma bibliografia tipo-Novas Oportunidades para o 1º ciclo, escrita e leitura básicas, iniciação à consulta de dicionários e tal. É que dói ouvir a criatura dizer "Chamar um primeiro-ministro a uma comissão de inquérito mais não é do que querer fazer chincana política". Não deve ser fácil mas também não há-de ser impossível meter-lhe na cabeça a diferença entre "gincana" e "chicana".

Agradecido.

(2010)
A PROPÓSITO DE EUCARISTIA...



No "Papa In Rio", será estreada, em Portugal, a comunhão em "sensurround".

Mas a Ordo Templi Orientis também poderia oferecer umas sugestões interessantes (e uma canção de fé e devoção).

(2010)
MELHOR SÉRIE DE POSTS EM CURSO NA BLOGOCOISA



Cem palavras que odeio

(2010)
YOU'RE NOT ONE OF US


(daqui)

(2010)
ADEUS ESCUTAS TELEFÓNICAS! OLÁ EM DIRECTO E AO VIVO!



O homem invisível está a caminho

(2010)

22 March 2010

TREMOÇOS E MONTESQUIEU



"Entrei como cientista político, saí como antropólogo. Em Mafra, no congresso do PSD, vi pouca política, mas vi, ao vivo e a cores, a imensa selva social que é Portugal. Às tantas, até parecia que estava no meio de um imenso e caótico casamento cigano, cheio de mulheres lindíssimas claramente overdressed (no meio destas madrinhas de casamento, aqui o escriba parecia um pedinte). Neste caos antropológico, falei de quotas partidárias enquanto bebia umas imperiais com uns senhores simpáticos, e, logo a seguir, discuti Tocqueville com umas senhoras ainda mais simpáticas (além de giras, as rangelistas são inteligentes).



A gradação de inteligência do PSD vai assim desde a epistemologia do tremoço ao debate sobre o liberalismo clássico. O PSD junta, no mesmo espaço, taberneiros profissionais e 'caixas de óculos' da teoria política. Como podem calcular, esta amplitude térmica transforma o PSD numa coisa fascinante para qualquer repórter. No próximo congresso, quando voltar a ser o David Attenborough do PSD, espero encontrar uma rangelista a ler Montesquieu e a trincar tremoços ao mesmo tempo". (Henrique Raposo, "O Microscópio Laranja", "Expresso" de 20.03.10)

(2010)
SÓ PODE SER POR CAUSA DA VIZINHANÇA

MC Snake

Mesmo ali ao lado do ilustríssimo César das Neves que, há semanas, derramava sabedoria acerca de Joan Baez, aparece, agora, Alberto Gonçalves, capaz de, em meia dúzia de linhas, explicar ao povo ignaro que "o hip hop tem pouco a ver com música e muito a ver com uma atitude de confronto face a uma sociedade que é, ou que se imagina, discriminatória. É, vá lá, um estilo de vida, traduzido à superfície no vestuário ridículo e nos gestos animalescos. E nas letras das 'canções' (?). As letras, que certa 'inteligência' considera 'poesia das ruas', são, além de analfabetas, manifestações de rancor social. Por norma, são também glorificações do crime e panfletos misóginos". E desenvolve, esclarecendo que "o hip hop nasceu na América enquanto braço 'musical' e tardio do black power, como os blaxploitation movies dos anos 1970 constituíram o seu reflexo 'cinematográfico' (as aspas não são fortuitas)" mas sendo, ao mesmo tempo, "principalmente uma invenção das indústrias discográfica e televisiva". Ficamos, pois a saber, que a indústria está feita com o "black power tardio" - seja lá isso o que for - e que o hip hop, como o rock, a ópera ou a culinária italiana, é todo igual (tudo isto, finalmente, para "legitimar" a morte por um agente da PSP do rapper MC Snake).

Também não sou especialmente fã de hip hop (nem de ópera - a culinária italiana é outra conversa). Mas, a propósito de qualquer assunto, não custa muito investigar um bocadinho antes de redigir a primeira colecção de disparates que vem à cabeça. As más companhias só podem dar nisto.

(2010)
IMAGENS EXCLUSIVÍSSIMAS DAS TÉCNICAS SECRETAS DE
RECRUTAMENTO E FORMAÇÃO DE "BOYS" PARTIDÁRIOS



(daqui)

(2010)
DA RUA AO PÓS-JAZZ


Começaram como "buskers", músicos de rua, e acabaram – por agora – na shortlist do Mercury Prize: “Não havia, de todo, nenhum plano. Apetecia-nos fazer música, dava jeito ganhar uns trocos e, como nenhum de nós tinha casa própria, era muito conveniente encontrarmo-nos na rua para tocar”. Convidados para actuar em Itália num festival ao ar livre, num dia de mau tempo, foram obrigados a abrigar-se sob um pórtico e, daí, retiraram o nome por que passariam a ser designados: Portico Quartet. O percurso musical, porém, não poderia ter sido mais informal: “Inicialmente, não tínhamos um reportório definido, era tudo muito improvisado. Mas não foi difícil descobrir uma estrutura na música que fazíamos, isolar os elementos que funcionavam e trabalhar a partir deles. Não existe, ainda hoje, no entanto, um processo de criação estabelecido. No primeiro álbum, partimos de ciclos rítmicos, sequências harmónicas, e compusemos de uma forma texturada sobre eles. Agora, estamos a tentar proceder de uma forma um pouco mais visual, romper com algumas rotinas e experimentar outras ideias. Por exemplo, peças sem qualquer padrão estrutural que persigam uma linha única de desenvolvimento”.



Tendencialmente catalogados no interior daquela cena musical londrina a que se convencionou chamar pós-jazz (“é um conjunto de bandas que faz música fora da tradição reconhecida do jazz, como os Polar Bear ou Acoustic Ladyland, com influências do rock, do punk e de música electrónica. Arrumaram-nos aí também. Mas não nos encaramos, realmente, como músicos de jazz, não nos vemos como parte desse continuum”), poderiam também, facilmente, entender-se como a derradeira descendência de uma pequena genealogia de bandas britânicas da década de 80, influenciadas por Philip Glass, Steve Reich e pela "systems music" em geral – Regular Music, Lost Jockey (ambas com Andrew Poppy na tripulação), os passos iniciais de Michael Nyman – que, de caminho, prestou atenção à Cinematic Orchestra e tropeçou no "hang drum", o instrumento em torno do qual estruturariam a sua personalidade musical: “Foi decisivo. Não é possível imaginar como teria sido a nossa música na ausência dele. Esteve presente desde o início e actuou como uma espécie de ressoador dos nossos interesses colectivos. Encorajou-nos a desenvolver uma forma de tocar cíclica, repetitiva e hipnótica. Como, na altura, também ouvíamos muita música africana, Steve Reich e Philip Glass, foi um encontro feliz que nos permitiu encontrar uma via onde tudo isso se poderia articular com um certo ângulo jazzy”.



Apesar de, aparentemente muito “escrita” e bastante estruturada, a música que se pode escutar nos dois álbuns do quarteto – Knee-Deep In The North Sea (2007) e Isla (2009) – nasce de um modo bastante livre: “Improvisamos em colectivo e é-nos muito fácil – com o "hang" a desenhar padrões repetitivos no baixo e o trabalho melódico entregue ao saxofone – descobrir um rumo. Pode dizer-se que o "hang" é um primo do "steel-drum": foi inventado há cerca de dez anos, na Suiça, por uma empresa, a Panart, que procurou combinar características dos gamelãs, da Indonésia, com os "steel-drums". Levaram imenso tempo a conceber um novo tipo de aço, muito duro mas, ao mesmo tempo, bastante fino e reactivo”. Sem formação instrumental propriamente académica (o saxofonista, Jack Wyllie, e o contrabaixista, Milo Fitzpatrick, tocaram na Southampton Youth Jazz Orchestra e os outros, entre art-colleges vários, a School of Oriental and African Studies e o Goldsmith's College, estudaram arte e etnomusicologia), os Portico são, enfim, os primeiros a reconhecer que, se têm como matriz o vocabulário reich-glassiano, a hibridização que lhe imprimem só pode jogar a seu favor: “De certo modo, pode dizer-se que partimos dessas linguagens musicais mas não nos restringimos a elas. Escutamos outras músicas – rock, hip-hop – e acabamos por aglutinar tudo isso. E, de facto, não seria fácil ver um álbum de Reich nomeado para o Mercury Prize”.

(hoje, no Teatro S. Luiz, em Lisboa)

(2010)

21 March 2010

THE SEX PISTOLS - "LIAR"
(raccord daqui)



Lie lie lie lie liar you lie
lie lie lie lie lie tell me why
tell me why why d'you have to lie
Should've realised that you
should've told the truth
should've realised you know what I'll do

You're in SUSPENSION you're a LIAR

Now I wanna know know I wanna known why
you never look me in the face
Broke a confidence just to please your ego
should've realised you know what I know

I know where you go everybody you know
I know everything that you do or say
so when you tell lies I always be in your way
I'm nobody's fool and I know all cos I know
what I know

Lie lie lie liar you lie lie lie lie
I think you're funny you're funny ha ha
I don't need it don't need your blah blah
should've realised I know what you are

you're in SUSPENSION you're a LIAR
you're a LIAR
you're a LIE
LIE LIE LIE


(2010)
FINALLY, A CARTOON THAT TEACHES OUR
CHILDREN NOT TO COMMIT ADULTERY

(espalhando os valores cristãos)



"I can't tell you how many marriages between 8-year-olds I've seen end horribly because one of them slept around. Hopefully, these adorable cartoon bunnies and kitties and their jaunty anti-adultery song will finally teach these children that once they're, uh... married, they shouldn't be fucking other... uh... children, no matter how much.... uh... they come on to you". (daqui)

(2010)
A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DA NUANCE




... o que é apenas uma forma mais matizada e alambicada de dizer "se Sócrates mentiu, nem acho que seja muito grave".

(2010)