21 January 2011

ÓPTIMA POLÍTICA DE AUSTERIDADE


















Regina Spektor - Live In London (CD + DVD)

Embora em mais reduzida escala, Regina Spektor padece, hoje, de uma espécie de “síndroma de Bob Dylan em Newport 1965”: se muitos, justissimamente, consideram que o cânone do "songwriting" do século XXI não poderá considerar-se completo sem a inclusão da sua discografia, também não falta quem não lhe perdoe o terrível pecado de se ter elevado do estatuto de culto na fugaz cena anti-folk novaiorquina (cuja definição nunca foi mais precisa do que “uns tipos supostamente folk que o establishment-folk não acolhe de braços abertos”) para o de "singer-songwriter" cujos álbuns – em particular, desde Begin To Hope, de 2006 – até nem se portam nada mal nas tabelas de vendas. Mas basta ouvi-la e vê-la em palco para ficarmos com a certeza absoluta que esse é um problema com o qual ela não poderia viver melhor.



E este Live In London é um magnífico exemplo disso mesmo: ao piano (e, ocasionalmente, à guitarra ou a cappella), apenas com um baterista e um quarteto de cordas, a 4 de Dezembro de 2009, no Hammersmith Apollo, de Londres, Regina, com visível felicidade, interpreta vinte e cinco canções (maioritariamente, mas não em exclusivo, do último Far, de 2009) que, na transposição das versões em disco para o formato mais austero desta tournée, não só em nada ficam diminuídas como ganham uma maior intensidade e justeza: menos maquilhagem pop (perfeita em estúdio), mais emoção enxuta, em directo (o segredo de palco). Com os nada desprezíveis bónus de três inéditos, "Silly Eye-Color Generalizations" (que é exactamente o que anuncia), "Bobbing For Apples" (possuidora da memorável frase “someone next door’s fucking to one of my songs”) e o delicioso espécime de "mock-country", "Love, You’re A Whore".

(2011)

1 comment:

m. said...

Por falar em anti-folk - e tendo em conta a época em que Regina Spektor ainda não se tinha elevado do seu estatuto de culto no underground novaiorquino -, o que é que acha dos primeiros álbuns dela? Por exemplo o Songs (2002): o único álbum da Regina feito só com voz e piano, que constitui um belo contraponto à tal “maquilhagem pop” dos seus trabalhos mais recentes, onde não só as habilidades de pianista assumem um papel mais preponderante, como também, em termos de “songwriting”, a podemos encontrar em grande forma, sendo este provavelmente – e apesar de ser talvez o mais difícil de assimilar dentro da sua discografia – um dos seus melhores discos.