19 August 2011

ANDREI ZHDANOV E O SUMO-PATÍFICE RATZINGER: A MESMA LUTA CONTRA UMA MÚSICA MÁ E FALSA, POR UMA MÚSICA HUMANA, NORMAL E SANTA!



A 12 de Fevereiro de 2001, o supremo responsável pelo Tribunal da Santa Inquisição 3.0, expunha a doutrina da Vaticano S.A. para a música moderna:

"O cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, atacou severamente a música rock e pop e manifestou reservas em relação ópera, num ensaio consagrado à liturgia divulgado hoje em Itália. O prelado, encarregado oficialmente de guardar a pureza da doutrina, descreve o rock como 'expressão de paixões elementares que, nos grandes concertos musicais, assumiu carácter de culto, ou melhor de contra-culto que se opõe ao culto cristão'. Acusa o rock de querer falsamente 'libertar o homem por um fenómeno de massa, perturbando os espíritos pelo ritmo, o barulho e os efeitos luminosos'.

Quanto à música pop,
'ela já não é mais apoiada pelo povo'. 'Trata-se na minha opinião, de um fenómeno de massa, de uma música produzida com métodos e a uma escala industrial e que se pode qualificar desde já de culto da banalidade', afirma. O prelado acusa ainda a música de ópera de ter 'corroído o sagrado' no século passado e cita a esse propósito o papa Pio X que, no início do século, 'tentou afastar a música de ópera da liturgia'". (aqui)


Atentai, pois, agora, como, meio século antes, em 1946, o grande esteta e crítico de música, Andrei Zhdanov, já antecipava tais sábios comentários e observações!


Andrei Zhdanov's speech to the Soviet music functionaries - Lev Nikolayevich Shipovsky (1952)

"[O formalismo] substitui uma música natural e formosamente humana por uma música falsa, vulgar e com frequência, simplesmente patológica. (...) A música clássica em geral e a soviética em particular, são estranhas ao formalismo e ao naturalismo cru. Caracterizam-se pelo seu conteúdo de ideias elevadas, baseadas no reconhecimento da arte musical dos povos como fonte de música clássica, e pelo profundo respeito e amor aos povos, à sua música e às suas canções. Que enorme passo para trás dão os nossos formalistas da música no caminho do desenvolvimento musical, quando, minando o baluarte da música verdadeira, compõem música má e falsa, repleta de emoções idealistas estranhas às grandes massas do povo e capaz de satisfazer não aos milhões de habitantes da União Soviética, mas a uns poucos, a uma vintena ou pouco mais de eleitos: a 'elite'.

Muitos músicos jovens são desorientados pelo fantasma da inovação. Diz-se-lhes que a menos que sejam originais, novos, serão, escravos das tradições conservadoras. Mas, já que novidade não é sinónimo de progresso, proclamar tais ideais equivale a semear uma confusão abismal, para não dizermos, lisa e plenamente, enganar. (...) Não é certo, não é justo que o som dos pratos e tambores deveria constituir a excepção e não a regra na composição musical? Não está claro que nem todos os sons naturais devem ser incorporados às composições musicais? E, sem embargo, quanta indulgência inescusável há entre nós para com o naturalismo vulgar, significando, sem nenhuma dúvida, retrocesso!

Devemos afirmar francamente que umas quantas obras de compositores modernos se acham de tal maneira saturadas de sons naturais que fazem pensar numa perfuradora, se me desculpais a comparação anti-estética, ou num carroção de crimes musicais. Deveis compreender que é simplesmente impossível escutá-las!

Com tal música começamos a trespassar os limites do racional, a passar para lá do limite não só das emoções humanas, como também da razão humana normal. É certo que há teorias em voga actualmente que afirmam que o estado patológico do homem é algo assim como um estado superior, e que os esquizofrénicos e paranóicos podem alcançar em suas alucinações níveis espirituais tão elevados que não podem ser atingidos jamais pelo homem comum em estado normal. Estas 'teorias' não são acidentais, sem dúvida; são muito características de época de decadência e de decomposição da cultura burguesa. Mas deixemos todos esses 'refinamentos' para os loucos. Exijamos que nossos compositores nos dêem música humana normal".
(aqui)

+ outros contributos do Sumo Patífice para os domínios da crítica e da estética.

(2011)

6 comments:

Anonymous said...
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Anonymous said...
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João Lisboa said...

Shy author?

Anonymous said...

Em 49 o homem já tava morto, 49 é a data da revista. Morreu uns meses depois do ataque ao formalismo, é o que se chama uma morte informal.

João Lisboa said...

Oops!... é verdade, parece que é de 46. Pelo menos, foi a melhor conclusão a que cheguei.

http://en.wikipedia.org/wiki/Zhdanovism

... e eu até tinha um livrinho onde estavam reunidas as diversas intervenções dele e perdi-o.

MAL said...

Eu compreendo o Dr. Ratzinger. É devido ao Rock e a outras expressões artísticas como a pintura ou o cinema que a nossa sociedade chegou a este ponto de ruptura. Estamos perdidos. Ofereço-me para ir ao vaticano (desculpem, esqueci-me da maiúscula) para pedir desculpa em nome dos mortais pelos constantes atentados à vida e dignidade que o rock e derivados provocaram. Se o Banco do Vaticano aceitar prometo combater os comunistas, ajudar criminosos de guerra nazis e outros, saquear e roubar terras a outros povos em nome de deus e outras pequenas coisas mais. E no vaticano não se preocupem que lhes deixo os rapazinhos e as mulheres para sodomizarem à vontade. Não que seja hábito. Só se lhes apetecer...