24 February 2012

HOJE JÁ SE PODE ESCREVER QUALQUER COISA SEM A DESAGRADÁVEL SENSAÇÃO DE SE ESTAR A CUMPRIR CALENDÁRIO

Quando os acontecimentos se encontram ainda excessivamente próximos, é menos fácil não dizer tolices * sobre eles. É-me (é-nos?) francamente indiferente saber se Shakespeare, Masaccio ou Adam de la Halle eram - no que isso, à época, poderia significar - "de esquerda", "de direita", "revolucionários" ou "reaccionários", violadores ou pedófilos. Mas, com Céline, Ezra Pound ou José Afonso, o sangue tende a ferver.

Que importa que ele (Zeca) tenha falado em "atirar aos fascistas de rajada" (de resto, já que falamos nisso, um sentimento assaz louvável)? Se, onde se lê "fascistas", estivesse "comunistas", seria exactamente igual. O que interessam "ditaduras do proletariado", "reformas agrárias", "25 de Novembro" ou o pobre do Otelo? A importância de um autor-compositor afere-se através do revolucionarímetro ou do reaccionarímetro? A sério: daqui a 50 anos (ou menos), isso irá ter algum peso, para um ou para o  outro lado, a propósito de um homem que compôs isto?



* seguir por aqui o caminho das pedrinhas, de link em link.

(2012)

2 comments:

Manuel Carvalho said...

Sim e está tudo dito sobre o assunto.e não faltam exemplos... http://www.youtube.com/watch?v=HoQPQfAjr6M

João Lisboa said...

Por exemplo, também.