20 February 2012

O PENSAMENTO FILOSÓFICO PORTUGUÊS (LXXXVII)

Pedro Arroja


Divinyls -"I Touch Myself"

"Suponha que eu decido visitar um país longínquo onde não existe traço de catolicismo, se é que um tal país é possível. Ao chegar, travo conhecimento com um homem da minha idade, educado, inteligente, de boa-fé, boas maneiras, e perfeitamente saudável, e lhe digo assim: 'É possível a um homem viver uma vida inteira sem ter relações sexuais com uma mulher'. Ele olha-me incrédulo, ao mesmo tempo que eu procuro rebuscar todos os meus recursos intelectuais para lhe demonstrar que aquilo que digo é verdade.

A realidade, porém, é que por mais que rebusque no cérebro, eu não consigo encontrar um argumento suficientemente persuasivo para lhe demonstrar que aquilo que afirmo é verdade. Vários homens daquele país entretanto se juntaram à nossa volta, todos incrédulos como o primeiro. Começam a rir-se de mim, e eu sem argumentos no intelecto que me permitam demonstrar a minha verdade. Como é que eu vou demonstrar isto só pela razão?

Até que, em desespero de causa, e aceitando que nunca lhes poderei provar aquela verdade por argumento racional, lhes aponto um homem que eles já viram na televisão - o Papa. E acrescento: 'E se vierem lá ao meu país, apresento-vos muitos mais' *". (aqui)

* não pretendendo contrariar a inesgotável sabedoria do mestre, é capaz de haver aqui um problemazinho...

(2012)

4 comments:

Luis M. Jorge said...

Pois. Agora, a castidade foi uma invenção do catolicismo. O pobre homem nem sequer tem um conhecimento rudimentar de história das religiões. Vivemos num país de débeis mentais.

João Lisboa said...

O grande maître-à-penser Arroja poderá ter - insignificantes - falhas mas a sua sabedoria e densidade intelectual são lendárias. Ou não fosse ele presença regular no "pensamento filosófico português".

Anonymous said...

O César das Neves é muito bom, mas o Pedro Arroja, desculpe repetir-me, é "hors-concours"... Nem a imaginação mais fértil num dia de especial inspiração consegue atingir este nível. A única palavra que me ocorre é divinal!
Nuno Gonçalves

João Lisboa said...

"o Pedro Arroja, desculpe repetir-me, é "hors-concours"

Sem qualquer dúvida.