30 October 2013

Paul Doors: ler, logo à 4ª linha, que "várias das reformas aqui elencadas, excedem o tempo desta legislatura" é exactamente o mesmo que dizer "vejam este filme mas só irão perceber como ele é magnífico na 5ª sequela que não faço a menor ideia por quem será realizada"
A Academia de Hollywood em transe à espera do primeiro guião de Paul Doors
China’s Indie Music Scene: Transforming Contemporary Chinese Culture From The Bottom Up // 中国独立音乐现状剖析:从底层跃升并改变中国当代文化

(Vivian Hua)





(enviado pelo correspondente do PdC em Pequim)
As relações entre CDS e PSD vão azedar outra vez...

Edit: Uff... o regresso à estabilidade (recuo táctico)
... por falar em "Colóquio Letras", não podia vir mais a propósito... 

Vale a pena, a sério (mas tenham o cuidado de ler com o estômago vazio)

29 October 2013

Ora é assim mesmo que deve ser: simpatia e boa vontade
Lou Reed - "What's Good"


MATT, TOM E O BONECO DE NEVE


Segundo o Génesis, Abel, pastor de ovelhas, e Caim, lavrador, filhos dos pais fundadores, Adão e Eva, desentenderam-se porque, tendo Caim feito “do fruto da terra uma oferta ao Senhor” e Abel levado como homenagem “os primogénitos das suas ovelhas”, “o Senhor atentou para Abel e para a sua oferta, mas para Caim e para a sua oferta não atentou”. Existissem já no início dos tempos as primeiras páginas do “Correio da Manhã” e, no dia seguinte, poderia ter-se lido que, “estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou”. Qualquer Saramago vulgar, prestando um péssimo serviço à causa do ateísmo, tenderá a erguer-se, irado, invectivando Jeová ao aperceber-se que este, injustissimamente, pune Caim, expulsando-o para “leste do Paraíso”. Fará mal: de contrário, não teríamos, pelo menos, um óptimo filme de Elia Kazan (East Of Eden, 1955), extraído da obra homónima de Steinbeck, e sabe-se lá que nome teria escolhido para si a banda que gravou Mercator Projected (1969) e Snafu (1970). Mas, muito pior do que não ter entendido que o que estava realmente em jogo nesse relato mítico era o conflito histórico entre pastores nómadas e agricultores sedentários, seria ainda ter-nos privado de uma testada matriz de análise sempre à mão para tudo o que tenha a ver com as (frequentemente) problemáticas relações entre irmãos. 



E, para esse efeito, não existe "case study" mais apropriado do que The National: dois pares de irmãos – Scott e Bryan Devendorf, Aaron e Bryce Dessner (gémeos). Só Matt Berninger ficava fraternalmente desemparelhado. Até ao dia em que, preparando-se a banda para a digressão de High Violet, o mano 9 anos mais novo, Tom Berninger, se lhes juntou na qualidade de "roadie". Porém, com uma missão paralela: ele, "metalhead" para quem a música dos National não passa de “pretentious bullshit”, ele, o "underachiever" de uma família de gente bem sucedida que não tem mais para apresentar como CV do que From The Dirt Under His Nails e Wages of Sin – dois filmes domésticos de terror-série-abaixo-de-Z –, ele, o irmão desajeitado, gorducho e bebedolas do belo Matt (também amigo do copo mas com suma elegância), iria rodar um "rockumentary" sobre o grupo e a tournée. As tarefas de "roadie" foram, inevitável e, por vezes, embaraçosamente, desleixadas, mas Mistaken For Stangers (Doclisboa’13, a 29 Outubro e 2 de Novembro, no S. Jorge), o filme, acabaria por ser concluído: menos documentário do que exercício audiovisual de psicoterapia familiar, por entre incipientes tentativas de entrevistas (mas não façamos pouco de perguntas como “Levam a carteira para o palco?” – identicamente interrogado, há anos, Tom Waits respondeu com "à propos": "Nunca se deve levar a carteira para o palco. Não se pode tocar com dinheiro no bolso. Há que tocar como se precisássemos do dinheiro"), imagens de actuações e confusões de bastidores, se fosse intitulado apenas Matt & Tom não seria disparatado. Até porque, por outras palavras e imagens, bem poderia ilustrar o que Dylan Thomas escreveu: “It snowed last year too: I made a snowman and my brother knocked it down and I knocked my brother down and then we had tea”

28 October 2013

Para que se entenda que a latrina é uma fossa séptica transversal

Caríssimo Paul Doors: sabemos bem que cinema é cinema e, mesmo um guião longuissimamente amadurecido, pode conter algumas falhas... mas vá lá passar os olhos por uns apontamentozinhos de História, está bem?
Infinitamente grato, Mestre, aquele "e muitos cientistas" é uma pérola!

LIMPAR O PÓ AOS ARQUIVOS (VIII)

(com a indispensável colaboração do R & R)


Confirmado: o património está cada vez mais imaterial

27 October 2013





Lou Reed - "Sex With Your Parents"
 


I was thinking of things
That I hate to do
Sex with your parents
Things you do to me
Or I do to you, baby
Sex with your parents

Something fatter or uglier
Than Rush Rambo
Something more disgusting
Than Robert Dole
Something pink
That climbs out of a hole
And there it was
Sex with your parents

I was getting so sick of
This right wing republican shit
These ugly old men
Scared of young tit and dick
So I try to think of something
That made me sick
And there it was
Sex with your parents

Now these old fucks
Can steal all they want
And they can go and pass laws saying
You can't say what you want
And you can't look at this
And you can't look at that
And you can't smoke this
And you can't snort that
And me baby, I got statistics
I got stats
These people have been to bed
With their parents

Now I know you're shocked
But hang and have a brew
If you think about it for a minute you
Know that it's true
They're ashamed and repelled
And they don't know what to do
They've had sex with their parents
When they looked into their lovers eyes
They saw - mom
In the name of the family values
We must ask whose family
In the name of the family values
We must ask...Senator

It's has been reported that you have had
Illegal congress with your mother
Sex with your parents
Ah, Senator
An illegal congress by proxy
Is a pigeon by any other name
Sex with your parents

Senators you polish a turd
Here in the big city we got a word
For those who would bed
Their beloved big bird
And make a mockery of our freedoms
Ah, without even using a condom
Without even saying "no"
By god we have a name
For people like that
It's - hey motherfucker
LOU REED - 1942 / 2013





Portugal numa casca de noz (VII)
  (ou a latrina, agora, em modo patético)

"Há alguns meses, falaram-me que as minhas capacidades e competências seriam aproveitadas mas até ao dia de hoje ninguém me sugeriu nada". Aproximam-se as eleições para o Parlamento Europeu e, de Lisboa, não há sinais de "reconhecimento". (...) "Prometeram que a minha experiência seria tida em conta e que alguma coisa me seria proposta. Admito que isso possa vir a acontecer, mas até hoje, não aconteceu". (Macário Correia, no "Público" de hoje)
... e comunicarem, oralmente e por escrito, apenas em Klingon
Não faço ideia se isto se confirma, mas, como se poderá verificar em qualquer história do fado, o que poderá desaparecer não é apenas um restaurante simpático mas sim uma das marcas históricas ainda sobreviventes dos primórdios do fado "fora de portas"


Fado no "Ferro de Engomar" (c. 1930) - fotos do Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa

26 October 2013

Estão a ver? Quando há simpatia e boa vontade, as coisas podem resolver-se sem aborrecimentos... 


... já as juizas Stella Fátima Scampini e Maria Isabel do Prado precisam, urgentemente, de segurança pessoal reforçada...
Eu sei que não estás a ir para novo mas, caraças, Machete, pá, estas merdas não podem aparecer assim na imprensa... está lá um porradão de tugas que ainda se fornicam big time e, por cá, a filha da Kukanova, se lhe sobe a mostarda ao nariz, vai tudo a eito... hemoglobina visível à flor da pele, méne, chicotes e isso, tem de ser, eles curtem essas cenas BDSM, é afirmação identitária pós-colonial, há que respeitar... vá lá... afocinha pela pátria! (depois fazemos-te uma estátua num beco catita de Setúbal, eu caia aqui morto)

(... mas a parceria estratégica Angola-Brasil também já deve ter visto melhores dias..)
Esclarecimento útil e necessário ("upgraded" da sua baixa condição de mero habitante de caixa de comentários): 

1) Desinteressa-me totalmente "a vida frívola das celebridades".

2) Pareceu-me apenas curiosa a proximidade entre os títulos e abordagem que, nas "revistas del corazón", é habitual fazer-se aos "desastres sentimentais" da xungaria televisiva e afins e a que, num orgão de imprensa "sério", se pratica sobre um eminente "filósofo" e "maître à penser"/ex-futuro (?) político da pátria e sua proto-intelectual consorte.

3) No fundo, se quiserem ir por aí, apenas uma constatação de como, indiscutivelmente, a revolução popular triunfou.

25 October 2013

Oh... la philosophie!...




Mas quem iria perder tempo a escutar-te?
"Sócrates, protestando o seu desinteresse pela vida pública e as suas novas tendências para a filosofia, com a convicção de um adolescente analfabeto, só pensa em abrir o caminho para um memorável ajuste de contas. Uma entrevista justificatória na RTP, um programa de 'opinião' também na RTP e, agora, o lançamento de um 'livro', para inaugurar um estatuto de 'intelectual', a que nem sequer faltou Mário Soares, Lula da Silva e uma assistência de 'notáveis', seleccionados por convite. O supracitado 'livro', absolutamente desnecessário, é de facto uma prova escolar (uma 'tese' de mestrado), sem uma ideia original ou sombra de perspicácia, que assenta na larga citação e paráfrase de – vá lá, sejamos generosos – 30 livros, que se usam pelo Ocidente inteiro, e em algumas fantasias francesas (Sciences Po oblige). O extraordinário não é que Sócrates se leve a sério, o extraordinário é que o levem a sério. Mas claro que o 'lançamento' não foi de um 'livro'." (Vasco Pulido Valente no "Público" de hoje, na íntegra aqui)
Os inventores da "requalificação" não passam de uns tenrinhos novilinguísticos...
Governo estuda caso do Onychomys torridus para o adaptar ao Sapiens sapiens, mantendo-lhe a resistência à dor mas retirando-lhe o apetitezinho para devorar o agressor
Quem se atreve a dizer que, neste blog, não se adivinha o futuro todos os dias? (e não será preciso esperar muito para que o modelo-Mordóvia comece a ser também considerado)

24 October 2013

2013 - Prémio de Poesia

Arquipélago de silêncio à vista!
Um cão a passear entre os quadros de Amadeo poderá ser uma performance para enganar o tédio durante o "lunch break" ou o chá das cinco; mas qualquer uma destas está bem mais próxima do espírito original da coisa:




GULAG
 


A 23 de Setembro passado, na colónia penal nº 14 da Mordóvia – acerca da qual, na Rússia, se diz, com terror, que “quem nunca cumpriu ali pena, simplesmente não cumpriu pena” –, Nadezhda Tolokonnikova entrou em greve de fome. “É um método extremo mas é a única forma de sair da situação em que me encontro”, declarava numa carta publicada pelo “Guardian” em que denunciava a selvajaria no tratamento infligido às mulheres ali detidas: “O trabalho forçado ocupa dois terços das horas do dia, o repouso é de quatro horas por noite e o dia de descanso apenas acontece uma vez em cada mês e meio. As mulheres são espancadas por tudo e por nada, têm medo das próprias sombras”. E explicava que os maus tratos são “um método conveniente para forçar as prisioneiras à submissão total perante os sistemáticos abusos de direitos humanos. As condições de vida e de higiene do campo são calculadas para se sentirem como animais imundos e sem direitos”. Para lá transferida no cumprimento de uma pena de dois anos após o julgamento-farsa das Pussy Riot por um tribunal de Moscovo, em Agosto de 2012, Tolokonnikova recorda o acolhimento por parte do chefe-adjunto da cadeia, tenente-coronel Kupriyanov: “Deverá saber que, no que diz respeito à política, sou um estalinista”. “Por isso”, concluía, “inicio esta greve de fome e recuso participar no trabalho escravo na colónia. E assim me manterei até ao dia em que a administração decida cumprir a lei e pare de tratar as prisioneiras como gado”.



No dia seguinte, seria transferida para uma cela de isolamento e, uma semana depois, internada no hospital da prisão, tendo suspendido a greve quatro dias mais tarde. Protesto idêntico realizara, em Maio, a outra detida, Maria Alekhina, após ter sido impedida de participar na audiência judicial que avaliava um pedido de liberdade condicional, rejeitado devido a ela “não ter demonstrado arrependimento pelos seus crimes”. É sobre toda a trajectória que decorreu desde a performance das Pussy Riot, a 21 de Fevereiro do ano passado numa catedral de Moscovo, suplicando à Virgem que livrasse a Rússia de Putin – o mesmo Putin que, no início deste mês, um grupo de personalidades russas propunha para prémio Nobel da Paz – até ao final do julgamento, que se debruça Pussy Riot – A Punk Prayer, o documentário de Mike Lerner e Maxim Pozdorovkin, que a 25 e 29 de Outubro, o Doclisboa’13 exibirá na Culturgest e no cinema S. Jorge. Confessadamente fascinados pelo que qualificam como “uma das mais controversas performances artísticas de todos os tempos que logrou tocar no nervo sensível das relações entre Igreja e Estado e dirigir as atenções para a forma repressiva e corrupta como funciona o sistema judicial russo”, acompanharam durante seis meses todo o processo, entrevistaram familiares, apoiantes e opositores e, mais importante, estiveram presentes durante as sessões do julgamento, registando o violento confronto verbal de Nadia, Masha e Katia com as forças policiais, políticas e judiciais. Quanto a Tolokonnikova, tudo permanece transparente: “A minha vida não vai mudar. Os vectores da política e da arte continuarão a ser os mesmos”.
Isto é tudo gente séria, muito séria
Quem? Quem? Qual homem? Onde? Não estou a ver...

"Um homem que, sendo um engenheiro, formado com alta classificação, aliás, na universidade de Coimbra, durante dois anos e tal, esteve a estudar, e eu imagino que a estudar com muita força e com muitas horas por dia e produziu um livro verdadeiramente único" (M. Soares)

23 October 2013

Prioridades são prioridades
 
Os Mutantes - "Panis Et Circenses"
TENS, TENS, OLHA QUE TENS... 

("DN")
Michael Praetorius - Terpsichore
(Philip Pickett and the New London Consort)









Uma espécie de Joana Vasconcelos
 
Logo, não se esqueçam de fazer umas perguntinhas ao Lula sobre a Odebrecht e, ao estudante de Sciences Pô, sobre a Octopharma
2013 - PRÉMIO "A EUROPA (E, QUIÇÁ, O MUNDO) 
C'EST MOI"
 

22 October 2013

A meus braços, David

"There have always been businessmen and business in the world. But never in history till today was business accepted as a morally honorable activity for men; never before was the businessman permitted to dominate the affairs of men. Today the rule of the businessman, accepted, justified and glorified, has become undisputed and absolute". (Elijah Jordan, citado em The Books We've Lost por Charles Simic)
Epá, Machete, eu sei que não fazes outra coisa, mas vais ter de pedir desculpa também a este...
ANNA CALVI - "FIRE" 
(B. Springsteen)

A PRÓXIMA VEZ QUE OUVIR UM GEBO QUALQUER A DIZER "COMPTITEVIDADE" FAÇO VÍTIMAS INOCENTES
Machete, tu cala-me já a boca a estes gajos que só nos metem em trabalhos! Tu vê-me bem isto!! E esta pouca vergonha!!!... O que fazia falta era um Relvas em cada esquina...

21 October 2013

Como piada foi... fraquinha 
(arquivar em "agit-prop fofinha")
Tea Party das 5 (+ 1)

(daqui)

... mas nada, rigorosamente nada, nos poderia ter preparado para tão himalaico pináculo do pensamento filosófico português!

20 October 2013


"Não houve problemas e isso é importante. Os protestos fizeram-se ouvir e o Governo sabe que muita gente contesta as suas opções. A polícia fez sentir a sua presença, mas não teve de agir. Assim, o sentido de responsabilidade de todos acabou por vir ao de cima e se é verdade que a CGTP sabe enquadrar de forma ordeira as suas manifestações, é evidente também que os portugueses, mesmo em tempo de crise económica aguda, preferem evitar somar novas crises que não trariam vantagens para ninguém a não ser os defensores do caos. Bom senso". (aqui)
Numa desinteressada e modesta tentativa de contribuir para o desanuviamento das relações entre Portugal e Angola e, ao mesmo tempo, amofinar um bocadinho a Vaticano S.A., aqui de Portugal, completamente free of charge, se sugere aos responsáveis políticos de Luanda que, à semelhança dos seus não menos democráticos colegas chineses, reavivem o culto de Beatriz Kimpa Vita e oficializem o Antonianismo como religião de Estado (não é mais disparatada do que a versão original e o aroma tropical dá-lhe muita pinta)

Ora cá está: um pirata, por muito que se pareça mais com um homem de negócios do que com um pirata, safa-se sempre pior do que qualquer homem de negócios que, não parecendo, seja um verdadeiro pirata
Um gajo lê certas merdas e só pode ficar com cãibras de tanto rir (V)

"Pela primeira vez, por causa disto [tese de mestrado], li quatro livros do Freud, nunca tinha lido. (....) Li-o profundamente para poder entender o que é um torturador. E não é um sádico. Se fosse, descansar-nos-ia". (José Sócrates à "Revista" do "Expresso")
Um gajo lê certas merdas e só pode ficar com cãibras de tanto rir (IV)

"Sou um democrata! (...) Não sinto nenhuma inclinação para voltar a depender do favor popular" (José Sócrates à "Revista" do "Expresso")
E, investindo no time warp, poderia ter havido ainda outra alternativa 


19 October 2013

Um gajo lê certas merdas e só pode ficar com cãibras de tanto rir (III)

"Em Berlim, tudo muito formal, conversámos e fomos jantar. A Merkel está do outro lado com aquele estupor do ministro das Finanças, o Schäuble, que foi agora corrido. Todos os dias esse filho da mãe punha notícias nos jornais contra nós" (José Sócrates à "Revista" do "Expresso")
Um gajo lê certas merdas e só pode ficar com cãibras de tanto rir (II)

"Estou com o George Harrison: 'A felicidade é abrir os jornais e não falarem de nós'" (José Sócrates à "Revista" do "Expresso")
Um gajo lê certas merdas e só pode ficar com cãibras de tanto rir (I)

"Sempre me filiei nas correntes do consequencialismo e do utilitarismo, o utilitarismo de Bentham e de Stuart Mill" (José Sócrates à "Revista" do "Expresso")

Portishead - Roseland New York City 

18 October 2013

"O Lula é talvez o meu melhor amigo dos tempos da acção política, foi meu companheiro durante os seis anos intensos em que fui primeiro-ministro. (...) Chegou a Lisboa e quis falar comigo e ninguém lhe dava o meu número de telefone, já eu estava em Paris"  
(nota mental: o gajo muda de telefone e não dá o número ao melhor amigo) 

"No dia seguinte, estavam lá os catedráticos todos, no doutoramento, e o Lula disse-lhes que eles tinham ali aquele gajo como étudiant - eu fui e ainda sou estudante de Sciences Po - e pediu-me para lhes mostrar o meu cartão de aluno. Mostra, Sócrates! Mostra!"  
(nota mental: estavam lá os catedráticos todos e o gajo teve de mostrar o cartão para saberem quem ele era... lá não se chumba por faltas? É como na Independente?)


"Foi feliz na cidade. 'Nem sabia que existiam vidas assim, vidas tão boas. Nunca tinha tido uma vida dessas'"  
(nota mental: os bancos concedem uns empréstimos catitas a ex-PMs, hein?... ou estará ele a falar dos êxtases intelectuais da vida académica?) 

"Durante um ano, José Sócrates foi às aulas com gente muito mais nova do que ele. (...) 'Foram sempre muito queridos comigo'"  
(nota mental: ... err...) 
(daqui
Sobre a excelsa qualidade da instituição já estávamos esclarecidos; por isso, não espanta verificar o tipo de aleijões mentais que produziu


Machete, pá, estás à espera de quê para ir a correr pedir desculpa?...
Prossegue a enumeração das elevadas virtudes pedagógicas e militares
Como sempre mas, agora, com erros ortográficos e tudo

Edit (13:11): ... levou tempo mas aquele "Há" inicial lá foi corrigido para "À"... não tem de agradecer.

16 October 2013

A propósito de manifestações proibidas

SIM, SIM, SIM 


Em 2011, naquelas trepidantes semanas finais do ano em que, guiando-nos fidelissimamente por parâmetros de avaliação estética praticamente científicos, nos é confiada a superior missão de decretar os melhores dos passados doze meses, quando, por entre tubos de ensaio fumegantes e folhas de Excel densamente preenchidas, ficou, enfim, concluído o processo, o resultado não poderia ser mais surpreendente (mas ciência é ciência!): no meu top 10, surgiam 9 álbuns com assinatura feminina, sendo Tom Waits (Bad As Me) o único intruso do género oposto. Ignoro em que medida isso poderá contribuir para o febril debate em curso (travado com instrumentos de análise não menos científicos do que os utilizados pela crítica musical) acerca dos consistentemente melhores resultados académicos das raparigas – é verdade que, no ano seguinte, tão avassaladora hegemonia não se repetiu – mas, dessa brigada de assalto, de acordo com os testes preliminares de selecção, encontram-se já bem colocadas para, em 2013, repetir a proeza, June Tabor, Laura Marling e no que, agora, vem à conversa, Anna Calvi. 


Por altura do álbum de estreia homónimo, o respeitável "hype" dos fãs instantâneos Brian Eno e Nick Cave ter-lhe-á, certamente, dado jeito para arrebitar orelhas distraídas. Mas, quem a escutou, rapidamente se terá apercebido de que estava perante mais um espécime particularmente valioso da classe artista pop-com-"pedigree"-de-conservatório: Calvi cantava como uma Callas membro do clube de fãs de Siouxsie Sioux, supliciava a guitarra de modo só igualado por St. Vincent, compunha nos interstícios das partituras de Debussy, Bowie, Morricone e Django Reinhardt e apresentava-se como potencial modelo fotográfico que não passaria despercebido – entre outros – a Karl Lagerfeld. Tudo motivos bastantes para que o segundo, One Breath, agora publicado, assumisse o duplo carácter de acontecimento de relevo e pretexto de confirmação definitiva (ou não). E o veredicto é sim, sim, sim! Nem uma só das qualidades antes reveladas é contrariada e várias outras se descobrem, fazendo pensar que o famigerado piropo de Eno (“o acontecimento musical mais importante desde Patti Smith”) pecava seriamente por defeito. Escutem "Piece By Piece": o crescendo da floresta de "pizzicati" de uma orquestra em afinação abre a porta a uma melodia hipnótica que se deixa abalar pelos espasmos controlados da guitarra. A mesma guitarra que, atrás, em "Eliza", se enroscara vertiginosamente como uma serpente pela batida rítmica acima, puxando a ascensão épica para além da estratosfera. Espreitem, a seguir, o vídeo de "Sing To Me", realizado por Emma Nathan: Nick Cave tem aqui o ponto de partida para passar das palavras aos actos e começar a escrever o seu segundo "western spaghetti", depois de The Proposition – a banda sonora da melhor discípula contemporânea de Morricone já existe. E prestem atenção também a "One Breath" (Portishead desagua em Mahler), "Cry" (a "torch song" segundo Hendrix), "Love Of My Life" (Hendrix esquartejado pelo punk) e "Carry Me Over" (todas as pegadas vão dar a Scott Walker). Disco do ano, qual a dúvida?
O Bom Soldado Švejk