22 February 2014

"Educados na hipocrisia e na imoralidade pelo Catolicismo, na resignação e na dependência do Estado pelo Absolutismo e no desprezo pelo trabalho pelas Conquistas, os portugueses não se recomendavam à 'geração de 70'. A 'geração de 70', que veio a público numa época de recessão - provocada pela diminuição das remessas do Brasil -, não encontrava nada de redentor na sociedade que a Regeneração (de 1851) fizera. Para Eça ou para Ramalho, Portugal não passava de uma imitação da França, traduzida em calão ou em vernáculo. A grande obra de Eça, Os Maias, acaba na Avenida da Liberdade, uma triste cópia de um boulevard, com amargas considerações sobre o carácter postiço da civilização indígena e da classe média que se passeia na rua, ociosa e ridícula. (...)

Este paradoxo continua a acompanhar os portugueses. Por um lado, não há um cantinho da nossa vida que não se compare com a Europa e não há triunfo que não consista em encontrar semelhanças entre as coisas de lá e as coisas de cá. Por outro lado, os governos proclamam a nossa singularidade atlântica ou (nos casos de incurável loucura) mundial. O país balança entre um 'papel' na Europa, que não encontrou, e um 'papel"' em Angola, no Brasil ou numa selva qualquer da África ou da Ásia, que manifestamente o excede. De qualquer maneira, como lamentava Eça, nesta apregoada época de 'globalização', Portugal está 'desempregado'. Ninguém precisa dele e ele precisa urgentemente de sair da sua velha irrelevância. Imitando, sem imitar, claro. Como de costume e com os resultados do costume". (VPV)

2 comments:

Anonymous said...

Este tema não consta da ordem de trabalhos deste blogue.

Para que nos havemos de preocupar com o papel de Portugal no mundo ?

Que se lixe!

( numa desatenção )

Táxi Pluvioso said...

Portugal é um pedaço de terra com pessoas inteligentes dentro.