18 May 2014

"Tive uma pequena vida russa ali por 1991 (com extensões em 1993 e 1998), que por um triz ainda foi soviética. Apanhei mesmo o golpe anti-Gorbachov que levou ao fim da URSS, eu e o namorado de então, um daqueles portugueses que tinham estudado em Moscovo. Em 1991 andou comigo nas barricadas, tal como o anti-golpista em casa de quem dormíamos, e aquele milhão de anti-golpistas que queriam liberdade, achávamos nós. Em suma, vou à beira-Tejo reencontrar o namorado de então, hoje diplomata da União Europeia em Moscovo, e ele dá-me notícias do nosso anfitrião russo de então, hoje um fiel do tsar Putin: a Ucrânia não existe porque tudo é Rússia, as Pussy Riot estiveram dois anos presas porque pecaram contra a Igreja e os gays são doentes que devem ser tratados. Isto é o que o meu namorado de então ouve todos os dias e tornou-se difícil ter amigos nessa barricada, a dos fascistas. Foi no que a Rússia se tornou, diz ele, um estado fascista, de zombies que acreditam na propaganda da televisão contra a decadência do Ocidente. A decadência do Ocidente são os gays e as lésbicas e as Pussy Riot. Eu gostava que os meus amigos de esquerda que continuam a defender o Kremlin me explicassem o que há de esquerda na Rússia homofóbica, autoritária, imperialista de 2014. A vitória de Conchita Wurst (grande nome) foi só mais um sinal da decadência do Ocidente, leio nas reacções russas. Dá vontade de uma pessoa se chamar Conchita Wurst e andar pela Praça Vermelha cofiando a barba, tipo Guerra Junqueiro, mas de salto alto". (aqui)

2 comments:

alexandra g. said...

Bela infusão de ironia:

"Dá vontade de uma pessoa se chamar Conchita Wurst e andar pela Praça Vermelha cofiando a barba, tipo Guerra Junqueiro, mas de salto alto"

:)

Beep Beep said...

Nao tem nada que saber. Desde que do outro lado estejam os EUA, até Sauron seguiam.