19 August 2014

O TODO E AS PARTES 


A ideia atribuída a Aristóteles segundo a qual o todo é superior à soma das partes poderá entusiasmar os adeptos das sinergias mas é bastante provável que até o velho trácio concordasse que a sua aplicação ao caso de uma banda como The Walkmen não é fácil. Não se discute que a óptima discografia do grupo de Hamilton Leithauser, Paul Maroon, Walter Martin, Peter Matthew Bauer e Matt Barrick tenha resultado da particular alquimia em acção no interior do sexteto sem a qual (ou com outra composição de reagentes estéticos) tudo teria resultado seguramente diferente. Porém – para chamar à conversa um exemplo de manual –, ao contrário do que aconteceu com os Beatles, da separação no final do ano passado, até agora, não emergiram personalidades individuais que façam sentir saudades da glória colectiva mas três belíssimos álbuns, bem distintos e a estimular o apetite para o que virá a seguir.


Já abordado Black Hours, de Leithauser, preste-se, então, atenção a We’re All Young Together, de Walter Martin, e a Liberation!, de Peter Matthew Bauer. Capítulo mais recente do género musical em formação “cool songs for cool kids” de que The Tragic Treasury, de Stephin Merritt/Gothic Archies (2006), e Leave Your Sleep, de Natalie Merchant (2010) foram antecessores directos, o álbum de Martin é o género de brinquedo que se oferece aos infantes mas com o qual os adultos também se divertem. Serviu de pretexto para colocar Matt Berninger (The National) a cantar "We Like The Zoo (Cause We’re Animals Too)", para convencer Karen O (Yeah Yeah Yeahs) a não insistir no perfil de felina neo-gótica e revelar uma faceta folk bem mais saborosa e, de um modo geral, pôr alguma da nata indie nova iorquina – Leithauser incluído – a folgar valentemente com canções sobre tigres, cascavéis e Beatles.


Peter Bauer, o discreto baixista/teclista, demonstra igualmente como, sob o quase anonimato do "line up" dos Walkmen, se escondia um excelente "songwriter" capaz de dedicar uma gravação completa aos combates com a fé nas suas várias e venenosas manifestações, num registo confessadamente influenciado por Roberto Bolaño e Elvis Presley (sim, isso mesmo), algures entre Tom Petty, Costello e Dylan, e que autoriza o diálogo com Richard Dawkins e Jorge Luís Borges (não, não é gralha).

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