12 June 2015

ROCK’N’ROLL


Segundo Celsus, filósofo grego do século II, citado por Orígenes, Jesus “era natural de uma aldeia da Judeia e filho de uma pobre judia que ganhava a vida com o trabalho das próprias mãos. A mãe tinha sido expulsa de casa pelo marido, carpinteiro de profissão, acusada de adultério com um soldado romano, de nome Panthera. Tendo sido repudiada pelo marido, e vagueando em desgraça, deu à luz Jesus, seu filho bastardo. Em virtude da sua pobreza, Jesus acabaria por ir trabalhar para o Egipto. Aí adquiriu alguns poderes mágicos que os egípcios se orgulham de conhecer. Regressou à sua terra grandemente exaltado pelo facto de dominar esses poderes, e por esse motivo reivindicou ser deus". Paul Verhoeven, cineasta e ateu irrecuperável, capaz de enxergar maior transcendência no cruzar de pernas de Sharon Stone do que na totalidade da Bíblia, partilha a opinião de Celsus e, por isso mesmo, integrou o Jesus Seminar, um colectivo de académicos e leigos dedicado a averiguar, à lupa, a historicidade da figura e das alegadas afirmações do putativo filho do Panthera.


Daí, retirou um livro, Jesus Of Nazareth (2007), e, agora, no penúltimo número do “Philosophie Magazine”, conta que ainda não desistiu de, a partir dele, dirigir um filme com argumento de Roger Avary (o de Reservoir Dogs e Pulp Fiction), representando o protagonista como um pacifista forçado pelas circunstâncias a converter-se em Guevara judaico. Mas, mais importante ainda: inspirando-se no estilo literário dele, “muito seco, factual e distanciado, na verdade, brechtiano”, que narra as parábolas “como Chaplin filmava, em plano de conjunto, sem ceder à emoção fácil”. O que obrigará também Verhoeven, “tal como em RoboCop e Starship Troopers, a integrar as parábolas na história como flashes de informação”. E, em jeito de justificação, o realizador que o compositor Jerry Goldmith (Basic Intinct e Total Recall) assegura ser “musicalmente muito perspicaz”, remata: “Não acredito em deus mas sou grande fã de Jesus. Do mesmo modo que sou fã de Stravinsky, de Bryan Ferry ou dos Rammstein”. Na verdade, faz todo o sentido: quem melhor poderia corporizar o lema über-rock’n’rolliano – pela primeira vez enunciado por Nick Romano/John Derek, em Knock On Any Door (1949) – “Live fast, die young and have a good-looking corpse”

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