30 January 2016

(sequência daqui)

"Não é deixando passar um aluno que não sabe minimamente ler, por exemplo, que um professor o ajuda, antes o trai porque se desresponsabiliza profissionalmente e o entrega à desmotivação que acabará por acontecer, mais tarde ou mais cedo, por acumulação de dificuldades, todas elas resultantes de não ter aprendido a ler de forma satisfatória. Parece óbvio, mas o certo é que se mantém a ausência de um debate sério sobre o Ensino, nele incluindo necessariamente a formação de professores. (...) Aquilo a que temos vindo a assistir no Ensino resulta por um lado, do trabalho da Direita apostada ostensivamente na defesa da Escola Privada e no abandono e desmantelamento da Escola Pública, e por outro, da Esquerda, em que ideologicamente me revejo, mas cuja postura lamento pelo fanatismo de um triste discurso miserabilista, que inclui a facilidade e que, paradoxalmente, contribui para a ausência de futuro daqueles que pretende defender, vislumbrando a igualdade na ignorância que fomenta" (aqui)
Mas, ó Capelão Magistral *, é só mais um exemplo feliz de como atribuir utilidade a um edifício assombrado

* aliás, Portocoiso, digo, Portocarrero

29 January 2016

O trafulha do Freud abdicava de uma snifadela de coca por um lapsus linguae como este - mas muito pior é o terreno fértil que isso será para a proliferação de frases que incluem o bárbaro "chamar de" (uma das mais recentes adições à lista infame)
Mais um punk na cena política lusa


"Núcleo do Sporting da Assembleia da República"???!!!... E, a seguir, é a célula fadista da Assembleia Municipal de Lisboa? O comité "sol e sombra" da presidência da República?
A sério: estes meliantes são ridículos ou são ridículos? (II)

27 January 2016

Morrissey, crítico de música 
e "maître à penser"


(daqui)
MOSAICO

  
Houve sempre muito cinema na música dos Tindersticks e bastante música dos Tindersticks no cinema. Em 2011, a propósito da publicação da caixa Claire Denis Film Scores 1996–2009 com as bandas sonoras do grupo para seis filmes da realizadora francesa (White Material, 35 Rhums, L’Intrus, Vendredi Soir, Trouble Every Day e Nénette Et Boni), Stuart Staples confessava mesmo que “quando encontrei o David Boulter, três ou quatro anos antes de termos constituído os Tindersticks, o que nos atraiu foi o universo das bandas sonoras para cinema”. Bem mais do que a de diversos outros com idênticas ambições, a música da banda de Nottingham – quando ainda não imaginava sequer poder vir a ter autorização para ver-se projectada nos ecrãs –, na sua natureza mais profunda, aspirava à condição do "film noir", em todas as suas variantes e declinações. Não é, por isso, motivo para surpresa que a relação quase monogâmica com Denis se tenha estabelecido (e prolongado, em 2013, com as atmosferas electrónicas de Les Salauds), alargado à colaboração com Suzanne Osborne na vídeo-instalação Singing Skies ou, paralelamente, com o Museu da Primeira Guerra Mundial, de Ypres, na Bélgica, através da criação de música para a sua exposição permanente. 



E, agora, The Waiting Room, projecto audiovisual total concebido como parcela do programa do Festival de Curtas Metragens de Clermont-Ferrand, no âmbito do qual, para cada uma das canções do álbum homónimo, foi encomendado um vídeo aos realizadores Christoph Girardet, Pierre Vinour, Rosie Pedlow, Joe King, Gregorio Graziosi, David Reeve, Gabraz, Claire Denis, Suzanne Osborne, Sara Não Tem Nome e ao próprio Stuart Staples. É nessa exacta dimensão de peça mosaico que o disco-filme exige ser apreciado: um encadeamento não-narrativo de momentos singulares que, numa lógica de "cadavre exquis", e com o discreto descentramento jazzístico dos arranjos de Julian Siegel, se abre a uma infinidade de sentidos. Da puríssima beleza hopperiana de “Hey Lucinda” (com Lhasa de Sela), à rude estranheza de “We Are Dreamers!”, ao desfile de animais embalsamados sobre a amável melancolia de “Like Only Lovers Can”, ao jogo de luz e sombra de “Follow Me” à volta de uma melodia de Bronislaw Kaper para Revolta na Bounty.

25 January 2016

Como muito bem diz o TP,
(tinha de ser o Augie "Mad Dog" SS...)
VINTAGE (CCXCV)

The Stranglers - "Nice'n'Sleazy"

Costumava escrever com piada;
era um reaça com pinta;
está completamente patarata
Confirmando o seu estatuto de presidente mais radical e esquerdista da democracia portuguesa, o marido da poetisa Silva, faz suas as posições do muito revolucionário e esquerdalho CEO da Vaticano S.A.
A JOKE A DAY KEEPS THE DOCTOR AWAY (XLIII)


24 January 2016

LIMPAR O PÓ AOS ARQUIVOS (XXVIII)

MÚSICA EM "X" 



Por muitas páginas que já tenham sido escritas acerca de X-Files/Ficheiros Secretos, poucas coisas definem tão bem a atmosfera da série criada por Chris Carter como o curto motivo melódico de seis notas na tonalidade de ré menor que constitui o tema musical do genérico. Autêntico logotipo sonoro que, instantaneamente, estabelece o clima conspirativo e misterioso em que decorre cada episódio, limita­-se, no fundo, a prosseguir uma gloriosa tradição de temas musicais para séries de televisão que contribuíram de forma determinante para lhes estabelecer a identidade. Provavelmente, muito poucos se recordarão da totalidade dos episódios das suas séries favoritas mas, sem dúvida, todas identificarão imediatamente os temas de Lalo Schiffrin para Missão Impossível, de Pete Rugolo para O Fugitivo, de Ted Astley para Robin dos Bosques, de Marty Manning para a Quinta Dimensão ou de Jerry Goldsmith para The Man from U.N.C.L.E.


Mark Snow, o autor do tema dos Ficheiros Secretos, tem "pedigree" académico: aluno ilustre da ilustre Julliard School of Music de Nova lorque, estudou com Itzhack Perlman e Pinchas Zuckerman, apaixonou-se pela música barroca e do Renascimento mas, apesar de oboísta, pianista e percussionista distinto dos cursos da Julliard, rapidamente cedeu à tentação da "baixa cultura" e, com o "room mate" Michael Kamen (outro notável actual da "film music" de Hollywood), fundou o New York Rock'n'Roll Ensemble que, nos anos setenta, se dedicava a combinar a tradição clássica com o rock. A aventura durou cinco anos mas, pouco depois, o universo da televisão acabaria por o atrair irremediavelmente. Responsável pelas bandas sonoras para diversas séries norte-americanas (de que as mais importantes terão sido Cagney and Lacey e Bagdad Cafe), seria, porém, com os X­-Files e Millennium que o seu nome se haveria de impor como referência no pequeno mundo daquelas personagens obrigatórias e indispensáveis quando se trata de estabelecer uma relação imediata entre imagens e sons.


Agora que os Ficheiros Secretos se transferiram do formato televisivo para o grande ecrã, Mark Snow acompanhou também, naturalmente, essa mudança. Mas, talvez mais interessante seja reparar como os Ficheiros — na televisão e no cinema — já deram origem a cinco gravações diferentes. A saber: The Truth and the Light/Music from the X­Files, Songs in the Key of X, The X-­Files/Fight the Future (BSO), The X­-Files: The Album e Extremis. É fácil agrupá-­los. Songs in the Key of X e The X-­Files: The Album contêm a música "from and inspired by the X­-Files". O primeiro, na versão televisiva (com Nick Cave, William Burroughs, Foo Fighters, Elvis Costello, Brian Eno, Soul Coughing ou os R.E.M.), o outro, na actual versão para cinema (com Mike Oldfield, Sting, Bjõrk, X, Noel Gallagher, Dust Brothers, Filter ou, outra vez, os Foo e Soul Coughing). No suporte CD, a comparação pende claramente para o lado da televisão: Songs in the Key of X é nitidamente mais pensado e "trabalhado", as canções do filme são apenas uma colecção de nomes mais ou menos "trendy" que fica bem no retrato mas que, em rigor, têm muito pouco a ver com o espírito dos Ficheiros e, de um modo geral, não são propriamente a "crème de la crème" da música do momento. Poderá ser somente uma questão de fundamentalismo mas, com as aventuras de Scully e Mulder não há outra forma de lidar...


The X-­Files/Fight the Future e The Truth and the Light são as "pièces de resistence" de Mark Snow. E, aqui, convém dizer que ele é consideravelmente mais consistente no pequeno formato televisivo do que no ambicioso fôlego orquestral e sinfónico a que, nestes dois álbuns, se arrisca. Não é Bernard Herrmann quem quer e o duvidoso passado "progressivo" de Snow que, nos dois registos perigosamente ressuscita, não constitui exactamente o melhor cartão de visita. Embora, talvez, ajude a explicar as razões por que Mike Oldfield foi o escolhido para, em The X-­Files: The Album, transformar o famigerado "tema X" nunca coisa chamada "Tubular X"... Se calhar, a peça de colecção que vale mesmo a pena guardar religiosamente é Extremis, o single de Gillian Anderson/Dana Scully com os Hal onde a lendária "unresolved sexual tension" entre ela e Mulder se resolve lateralmente num episódio de sexo virtual com seres alienígenas em registo de surrealismo/sci­-fi/easy listening/electrónico que faz mais pelo engrandecimento do mito do que mil bandas sonoras "oficiais". E que, se não ajuda muito a redescobrir as raízes confessadamente punk de Gillian Anderson, por outro lado, situa bem melhor os Ficheiros e a sua protagonista na região esotérica e alternativa onde se construiu o seu sucesso. (1998) + "The new, six-episode X-Files miniseries, which premières this Sunday, is as weird and spontaneous as the original show"
Últimos (e, quiçá, definitivos) contributos de La Potiche para o estudo da tricologia política (VI)
 




23 January 2016

É um típico caso de "olha que dois!..." 
(... e o terreno ficou bem adubado)


"The theme of this year’s gathering of business leaders and policymakers in Davos is the introduction of new technology. The WEF organisers have already predicted that 7 million jobs could go in five years, with women losing out the most. (...) Many labour-­intensive firms should be able to boost profit margins as they substitute costly workers for cheaper robots or intelligent software. (...) Workers already displaced by automation, such as those on assembly lines, could also feel the impact of the latest technology, as robots which are able to move around – so-called cobots – are able to perform more intricate tasks. 'The greatest disruption, however, could be experienced by workers who have so far felt immune to robotic competition, namely those in middle­-skill professions', the report says. It points to clerical work, such as customer service, being replaced by artificial intelligence. Insurance claims could also be settled without human intervention" (aqui - sequência daqui)
"O que resta da política, tal como ela se apresenta nas suas manifestações mediáticas, é uma coisa sem nome para indivíduos tratados como intelectualmente retardados ou como crianças. O regime de infantilização do eleitor tornou-se uma regra, um jogo a que todos se vão acomodando. Ele é cúmplice de um discurso hegemónico a que se chama 'comentário político' e cujo modelo tanto é a palestra didáctica do mestre-escola sobre as margens anedóticas da política, como um divertimento à volta das manobras tácticas do jogo político. Há em todo este fenómeno — que ora é popular, ora é infantilizante, ora é carnavalesco — um autoritarismo doce e invasivo. Esta subcultura já forneceu matéria para um debate sobre os fascismos sem fascismo, sobre novas formas de fascismo que não são incompatíveis com as democracias liberais do nosso tempo" (AG)

21 January 2016

Palhacitos eleitorais (XXXIV)


AQUELAS IDEIAS IMPERFEITAS 


Nos primeiros minutos de The Ties That Bind – o documentário de Thom Zimny incluído na reedição de The River –, Bruce Springsteen dedilha distraidamente a guitarra enquanto, de olhos baixos, procura reencontrar o fio à meada das perguntas que o realizador lhe dirige. E, com algum visível esforço para evocar uma história de há três décadas e meia, junta ideias e palavras: “Quando cheguei aos 30 anos, comecei a reflectir sobre as coisas que mantêm a sociedade unida, aquelas ideias imperfeitas acerca do modo como as pessoas se relacionam umas com as outras. Queria fazer parte disso, não me limitar a estar do lado de fora a observar e a ser um comentador ou um elemento do público, desejava participar. Os laços que nos unem – ‘the ties that bind’ – como é que essas coisas acontecem? Como é que as pessoas se juntam e separam? Queria participar desse jogo. Até aí, nunca tinha tido coragem para o fazer. Ou tinha-o tentado e falhado tão rapidamente que não resultavam. A tarefa de alguém que escreve é também escavar um pouco esses mistérios. Em boa medida, The River foi a minha tentativa de descobrir a coragem para saltar a pés juntos sobre essa experiência pessoal”. E, mais adiante, acrescenta: “Se não conseguisse estabelecer esses laços, ou desaparecia ou me perdia... uma vida criativa, uma vida imaginada não é uma vida”.



Há seis anos, durante uma actuação no Madison Square Garden em que interpretou The River na totalidade, explicara que esse álbum tinha sido a porta de acesso a toda a sua escrita seguinte: “Inclui canções que abriram caminho para álbuns posteriores inteiros: ‘The River’ deu origem a Nebraska, ‘Stolen Car’ conduziu a Tunnel Of Love. Era para ser um álbum simples mas apercebi-me que, nesse formato, não dispunha de espaço suficiente para capturar os temas sobre os quais tinha começado a escrever em Darkness On The Edge Of Town, não queria abandonar aquelas personagens”. Não as abandonou. Agora, mais velhas, mais desesperadamente adultas, mais criaturas de Steinbeck do que de Kerouac, o que se reflectia na própria matéria musical: “Queria ir em frente mas, curiosamente, inspirava-me em coisas muito mais antigas do que o rock: a country clássica e gente como Roy Acuff, Johnny Cash, George Jones, Tammy Wynette, uma música rural e de pequenas cidades mas com preocupações adultas”.



A começar pela própria "The River" (“I come from down in the valley, where, mister, when you're young they bring you up to do like your daddy done”) em que as personagens não poderiam ser mais reais: a irmã, Virginia e o cunhado, Mike, protagonistas de uma história de “tempos de recessão, tempos difíceis na América” (”I got a job working construction for the Johnstown Company but lately there ain't been much work on account of the economy”), cenário de maldição e ameaça (“Now those memories come back to haunt me, they haunt me like a curse, is a dream a lie if it don't come true or is it something worse?”). Na realidade, houve um primeiro album simples gravado, em 1979, no estúdio Power Station, de Nova Iorque, e nos Telegraph Hill Studios – de facto, um celeiro reconvertido numa quinta de Springsteen, na Telegraph Hill Road, em Holmdel, New Jersey –, The Ties That Bind, que acabaria por nunca ser publicado mas de cujo total de 10 canções, 7 haveriam de ser incluídas em The River, finalmente editado em Outubro de 1980.



No actual "box set" (4CD, 3DVD, o fac-símile de um caderno escolar com textos de canções dactilografados e manuscritos e um livro/"scrapbook" com ensaios de Mikal Gilmore e Bruce), The Ties That Bind: The River Collection, coexistem ambas as versões mas o verdadeiro cofre do tesouro é o quarto CD com as 22 "outtakes" das sessões de estúdio. Embora metade dessas faixas já tivesse sido revelada nas anteriores compilações Tracks (1998) e The Essential Bruce Springsteen (2003), nas 11 restantes – praticamente, um outro álbum inteiro – podem descobrir-se preciosidades (“The Man Who Got Away”, “Night Fire”, “The Time That Never Was”, “Stray Bullet”) que, um dia, Springsteen ainda deverá explicar por que motivo deixou a ganhar pó nos arquivos durante todos estes anos. Igualmente valiosos são os 3 DVD com o documentário de Thom Zimny, os River Tour Rehearsals e as 25 canções do concerto de 5 de Novembro de 1980, na State University de Tempe, no Arizona.



Na véspera, Ronald Reagan havia sido eleito para a presidência dos EUA. Em palco, Bruce Springsteen imobiliza-se, por instantes, em silêncio, e, a seguir, dirige-se ao público: “Não sei bem o que vocês pensam acerca do que, ontem à noite, aconteceu. Mas, a mim, parece-me bastante assustador. Vocês são jovens e irá haver muita gente que dependerá de vós. Por isso, esta canção é para vocês”. E lança-se violentamente sobre "Badlands" (“Baby, I got my facts learned real good right now, you better get it straight, darlin', poor man wanna be rich, rich man wanna be king, and a king ain't satisfied, 'til he rules everything, I wanna go out tonight, I wanna spit in the face of these badlands, you gotta live it everyday, let the broken hearts stand as the price you've gotta pay, we'll keep pushin' 'til it's understood, and these badlands start treating us good”) numa versão perigosamente incendiária.
... e ainda...


(daqui + recordando outro capítulo da história de uma família possuída pelo demo)
Palhacitos eleitorais (XXXIII)

É a loucura: booze & bardo & Mr. Double L & rock'n'roll (critic)!
 



(fotos daqui)
Pobre moço... o problema dele não é
um ano de guerra, são 26 anos de mãe

Mas "escutas ambientais" não é aquela cena ecológica de ir para o campo ouvir os passarinhos e os riachos? Ou muzak ou música de elevadores ou lá o que é?


20 January 2016

Palhacitos eleitorais (XXXII)

"O orçamento de campanha é austero, poupadinho, até as refeições são apenas conceptuais..."
É no que dá a futebolização do discurso político para agradar ao p.o.v.o. (quem mexe no esterco pode, facilmente, infectar-se)
Por um instante, há semanas, alagado em suores frios, receei que esta criatura fosse a nova inquilina do ministério da educação (não que a escolha final seja melhor)
KHAO MANEE 


Na Tailândia, o Khao Manee – uma das três principais estirpes de gatos autóctones, em conjunto com o Siamês e o Korat – é venerado como uma quase divindade. O nome significa “jóia branca” (é também conhecido como “gato dos olhos de diamante”), caracteriza-se pelo pêlo imaculadamente branco e, na variedade mais rara e preciosa, possui olhos de cor diferente: um azul, outro amarelo-dourado, o que, por milagre da genética, o salva da surdez que é comum nos que têm ambos azuis. Naturalmente, como todos os gatos, dispõe de nove vidas.


David Robert Jones, de modo muito semelhante, viveu outras tantas. Na primeira, sob esse mesmo nome, muito cedo, adquiriu uma das características do Khao Manee: uma briga escolar, provocou-lhe a anisocoria que, para sempre, lhe deixaria os olhos com a fortíssima aparência de colorido diferente. Na segunda, a mais curta, após ter tropeçado em "Tutti Frutti", de Little Richard, declarou ter “ouvido deus”, chamou-se Davy Jones, recebeu como presente um saxofone de plástico, imaginou-se nos Beatles, Who, Stones e Velvet Underground e apresentou-se na televisão como porta voz da Society For The Prevention Of Cruelty To Longhaired Men. A terceira, espécie de enorme tela sobre a qual desenharia todas as seguintes, viveu-a sob o nome de David Bowie, apelido extorquido ao pioneiro norte-americano, Jim Bowie, ou, mais exactamente, ao punhal que celebrizou.


Foi logo no início dessa que se gerou a quarta, a de Major Tom, que voltaríamos a encontrar, intermitentemente, em "Ashes to Ashes", "Hallo Spaceboy" e "Blackstar", mas igualmente o momento em que surgiria a suspeita sobre se Lauren Bacall ou Marlene Dietrich se teriam apoderado do seu corpo nas capas de The Man Who Sold The World e Hunky Dory. Na verdade, a quinta vida seria a de Ziggy Stardust, entidade apocalíptica, profética e bissexual, gerada nas incubadoras de William Burroughs e Anthony Burgess, antecedente da sexta, protagonizada pelo esquizóide Aladdin Sane (“a lad insane”), híbrido de Iggy Pop e Jean Genet de relâmpago no rosto, e da sétima, na qual, evocando, por contraste, o “diamond eye cat”, Halloween Jack, chefia o gang Diamond Dogs, e encena um Orwell sci-fi, niilista e quase punk.



Na oitava vida, seria a vez de a “jóia branca” assumir a forma do Thin White Duke – aristocrata demente, zombie amoral ou glacial super-homem ariano –, ainda em embrião na "plastic soul" brandida pelos Young Americans mas, sob dieta exclusiva de leite e pó-dos-sonhos, rapidamente entrado na idade adulta em Berlim, onde o cirurgião Brian Eno lhe extrairia as três pedras da loucura (Low, Heroes e Lodger) que, desde Station To Station, o atormentavam. A nona e última, sempre sobre o pano Bowie de fundo, viu-o fugaz e alternadamente lunar como Pierrot, sob o heterónimo de Nathan Adler, investigando o “art-ritual murder” de Baby Grace Blue – e perplexo com a dúvida “It was definitely murder - but was it art?” –, pluralmente dançante, “vacilando entre ateísmo e gnosticismo”, filósofo da “pós-filosofia” (“Nos últimos 20 anos, a realidade transformou-se numa abstracção para muita gente. Coisas que eram vistas como verdades extinguiram-se e é como se agora pensássemos pós-filosoficamente. Não há conhecimento, apenas a interpretação dos factos com que nos inundam diariamente, sentimo-nos como que à deriva no mar. E as circunstâncias políticas ainda empurram o barco mais para longe”), crepuscular até ao final. “Ashes to ashes, funk to funky”. Foram óptimas nove vidas. Poderá ter sido mais bem escutado numas do que noutras. Mas, em todas, a visão bicolor do Khao Manee assegurou-lhe um magnífico ouvido.
a perspectiva potichiana (V


19 January 2016


A versão do Assurancetourix lusitano também é mui excelente: "príncipe da república"
O lado negro da força

Tindersticks - "Hey Lucinda" 
(c/ Lhasa de Sela)

2016 - Prémio "Glamour Eleitoral"

La Potiche vai ao talho 



(mais foto-testemunhos aqui, aqui e aqui)

Palhacitos eleitorais (XXXI)

18 January 2016

Ao cuidado de Joana Vasconcelos e do "franchise" local da Vaticano S.A.

La Potiche (já uma candidata de respeito à ocupação do lugar deixado vazio pelo trágico insucesso da C.P.P.) propõe a versão feminina e negativa daquela cena do "cocu mais content"


Palhacitos eleitorais (XXX)
Resposta à pergunta do pasquim direitolas online, assinada pelo seu apoiante actual, Paulo Portas:
 
"Quem um dia disse que Marcelo Rebelo de Sousa é tão diabólico que mordia a própria cauda, acertou"; "O Velho Rasputine" (...) "que foi traindo com tranquilidade várias das personagens que já representou na vida"; "Ninguém como Marcelo recorreu, no jornalismo português, à cobardia do pseudónimo, uma das técnicas mais lamentáveis de sequestrar o leitor face à credibilidade de quem assina, e de ilibar quem escreve da responsabilidade perante quem lê. Ninguém como Marcelo (...) usou e abusou tanto da confusão entre opinião e notícia, cedendo às mais sofisticadas técnicas de manipulação. (...) Ninguém como Marcelo, no jornalismo português, cometeu até tão tarde o erro de olhar para os jornais como projectos políticos" (do "Independente" in O Independente: A máquina de triturar políticos)