26 May 2016

HOOKERS 


Goffin & King. Leiber & Stoller. Holland-Dozier-Holland. Bacharach & David. Lerner & Loewe. Rodgers & Hammerstein. Os fabricantes de êxitos pop, actuando autonomamente ou no interior de linhas de montagem de feição industrial – Tin Pan Alley, Brill Building, Tamla Motown – estiveram sempre muito mais próximos do modelo-Vivaldi (aviando, por encomenda, 500 concertos, 40 cantatas, 22 óperas, e mais de 60 peças de música sacra) do que do artista romântico oitocentista, obcecado com a expressão individual de emoções e sentimentos. Mas teriam de passar ainda algumas décadas até que as "hit machines" atingissem o elevadíssimo grau de sofisticação produtiva actual que John Seabrook descreve em The Song Machine: Inside The Hit Factory. Produtividade é, de facto, a palavra-chave. 

Katy Perry - "Californis Gurls" (prod. Max Martin)

Numa época em que os lucros da indústria discográfica encolheram até menos de metade do pico em 1999, nenhum detalhe pode ser descurado: se os programadores das rádios de Top 40 garantem que um ouvinte médio apenas concede 7 segundos de atenção a um tema antes de mudar de estação, então, é indispensável que as "playlists" se apresentem como “ruas de meninas” de Amesterdão, nas quais cada canção exibe um "hook" (motivo rítmico-melódico orelhudo) na introdução, outro antes do refrão, outro no próprio refrão e ainda outro na ponte. O objectivo é publicar material “de dimensão industrial, destinado a centros comerciais, estádios, aeroportos, casinos, ginásios e ao espectáculo do intervalo do Super Bowl”. Para isso, constituem-se equipas de produtores, “topliners, beat makers, melody people, vibe people, and just lyric people”, eventualmente reunidas em "writer camps", de cujo "brainstorming" se colhe um "hook" aqui, uma sequência de acordes ali, um "beat" acolá, que, após a montagem das peças soltas, terão de passar pelo processo de "comping" – o moroso trabalho de edição de inúmeras "takes" vocais, compasso a compasso, palavra por palavra, sílaba a sílaba, se necessário. Atenção, enfim, ao pormenor “just lyric people”: Max Martin (sueco, dínamo-exportador de sucessos para Taylor Swift, Rihanna, Kelly Clarkson, Katy Perry ou Adele), fraco falante de inglês, quando despachou "Hit me, baby, one more time" para Britney Spears, não imaginava que a canção pudesse vir a ganhar uma aura BDSM. Na verdade, supunha que aquilo que a miúda suplicava era que o namorado lhe telefonasse outra vez. 

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