18 June 2016

"(...) Conheço bem demais a questão que periodicamente os intelectuais do futebol, que há muitos, trazem para justificar tudo: o futebol iguala os ricos e os pobres na mesma Saturnália emocional e irracional, uma espécie de espasmo, para não lhe chamar outra coisa, colectivo, que revela a 'alma' de um povo que, de um modo geral, está dividido e desalmado. (...) Indiferentes à sucessiva entrega de Portugal às fatias aos angolanos e aos chineses e mesmo aos espanhóis, fazendo de conta que não vêem que já somos governados por gente em que não votamos e que não controlamos e que não responde perante os portugueses, guardamos a nossa fanfarronice para a bola salvífica. (...) Não quero, nem muito menos podia se quisesse, tornar diferente o mundo do futebol. Mas ao menos que paguem o preço da crítica, aqueles para quem a crítica ainda tem algum papel. Não são muitos, nem adianta muito, mas pelo menos que se saiba e se diga, que os media deixam nestes dias de ser media para serem uma sucursal do Entretenimento Inc., e que participam alegremente numa operação de dopagem colectiva que empobrece o país. O exagero absoluto que já tem pouco a ver com o que se passa no jogo, para se tornar 'reality show' permanente, tão adictivo como um químico. George Orwell, que percebia destas coisas, escreveu: 'Futebol, cerveja e acima de tudo o jogo, enchiam o horizonte das suas mentes. Mantê-los controlados não era difícil'. Nestes dias de bola, percebe-se que não é" (JPP)

2 comments:

alexandra g. said...

Ler isto e lembrar o discurso do meu pai é exactamente igual (era um fora-da-lei do caraças :)

João Lisboa said...

:-)