11 October 2016

UM “L” A MENOS 


Tenho de confessar: foi por uma unha negra que, neste texto, o título do "box-set"" de Momus não apareceu como Public Intellectual. E devo-o ao facto de, na recensão que a “PopMatters” lhe dedicou, Brice Ezell, no penúltimo parágrafo, ter contado que, também ele, só muito depois de o ter escutado, se apercebeu de que aquilo que se lia na lombada da caixa era, na realidade, Pubic Intellectual: An Anthology, 1986-2016. Com um “l” subrepticiamente a menos, que faz toda a diferença e que, googlando rapidamente, se descobre ter conduzido ao engano um razoável número de vítimas inocentes. Inocente é que Momus/Nicholas Currie não terá sido: a armadilha lançada para capturar todos os que estavam prontos a medalhá-lo na qualidade de figura eminente da "intelligentsia" pop (declaro-me culpado) não é muito diferente das inúmeras e elaboradíssimas outras que foi semeando ao longo de trinta anos. 



E que, nas "liner notes" com que faz acompanhar cada uma das 57 canções dos três CD, vai revelando – por exemplo, a propósito de "Lucky Like St. Sebastian": “Quando, em 1984, fui viver para Londres, pintei o meu quarto em Streatham de verde e amarelo e pendurei nas paredes reproduções de quadros da National Gallery onde – juntamente com o British Museum – passava bastante tempo. No autocarro 159 para o centro de Londres, reflecti sobre um ensaio de Kierkegaard (em Ou-Ou/Um Fragmento de Vida), ‘A Rotação das Colheitas’: nele, ‘A’, o esteta, afirma que o tédio é a raiz de todos os males. E cita a frase de Juvenal na qual este diz que as massas apenas desejam panis et circenses, pão e circo, diversão. Gostei da forma como ‘panis’ soava a ‘penis’ e comecei a pensar num álbum sobre pão e circo, o uso do entretenimento popular para pacificar e aplacar as massas”. O tosco preconceito anti-intelectual britânico carimbou-o para sempre: “too clever for his own good”. Nada que o impedisse de, até hoje, permanecer tal como se apresentou: “What's a laugh? The sound of common-sense falling apart. What's common-sense? A million unthinking hearts at the end of the working day. And who am I? Call me the barman standing, waiting for the workers to drink their work away, I'm the man who serves the laughter to the drunkards of disaster after they've got plastered on the news and I've got the situation comedy blues”.

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