28 February 2016

Quando uma criatura deixa de ser PR, falar de coisas "adequada(s) à função de gabinete de Ex-Chefe de Estado, com as valências orgânicas necessárias ao desenvolvimento da função" é um pouco como planear a ementa para o almoço de um defunto, não é? (para não falar dos 500 mil euros só em entradas)
(daqui)

Capelão Magistral, iluminai-me: 

Se a campanha que vos amofina é contra a Vaticano S.A. "e as demais confissões cristãs", estas PME, apesar de serem, evidentemente, da concorrência no vosso ramo de negócio, deverão ser:

1) consideradas cristãs? 
2) encaradas como pérfidas enviadas de Satanás, perigosamente "antidemocráticas e tendencialmente totalitárias"?

27 February 2016

E ficamos, outra vez, com estas dúvidas dilacerantes:

1) o JotaCê existiu ou não? 
2) o Grande Fantasma Cósmico existe ou não? 
3) O JotaCê foi, simultaneamente, filho do Grande Fantasma Cósmico e do pobre corno, José, ou não? 
(e, já agora, como é que uma pobre alma que anseia entregar-se nos santos bracinhos de nosssinhor distingue os cristãos bonzinhos dos cristãos mauzões?)
"A corrupção domina o relacionamento entre as altas figuras do regime angolano, a elite e o empresariado português. E o mesmo acontece nas relações entre o poder e a sociedade angolana. Agora, aquilo que parecia ser a poção mágica do regime, garantindo-lhe o poder vitalício, com o mundo curvado perante a sua impunidade, riqueza, e venalidade, está a transformar-se no seu cálice de veneno. (...) Quando o preço do petróleo estava em alta, acima dos US $100 por barril, a corrupção era bastante benéfica para Portugal, que recebia grandes injecções de capital saqueado à economia angolana. As construtoras portuguesas não tinham mãos a medir na realização de obras em Angola, com sobrefacturações extraordinárias. Dezenas de milhares de cidadãos portugueses encontravam empregos bem remunerados em Angola. (...) Com a baixa do preço do petróleo, desvaneceu-se a ilusão. A corrupção em Angola ficou mais cara para Portugal, porque, afinal, os membros do regime angolano também estavam a saquear uma instituição portuguesa, o Banco Espírito Santo (BES), através do BESA. (...)

Não tem outro remédio senão enfrentar a besta. O milhão de euros que por tão pouco tempo melhorou a vida do procurador Orlando Figueira demonstra como o egoísmo de alguns pode destruir a credibilidade de um Estado. O anterior ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, chegou a pedir desculpas públicas aos dirigentes angolanos que estavam a ser investigados em Portugal. Afinal, também estava a defender os negócios entre o seu filho Miguel Machete e o filho do presidente José Eduardo dos Santos, José Paulino dos Santos 'Coréon Du'. Era este o grau de promiscuidade. (...) Em suma, a corrupção é o grande movimento, a espada de Dâmocles que levará ao derrube da Corte de José Eduardo dos Santos. Não serão miúdos, opositores ou soldados que derrubarão essa casta de ladrões. Há um processo de autodestruição em curso. (daqui + reler aqui)
Jesus Wipes Away All Sins

(daqui)
... e há ainda a considerar 
a "hipótese dos quatro papás"
(de todos nós: o dito biológico + os três do além)
Agora, o Papa e o Dalai Lama já não precisam de passar anos a discutir: basta perguntarem ao BE

26 February 2016

O excelentíssimo senhor funcionário do franchise local da Vaticano S.A. irá desculpar, mas (e dizemo-lo com o máximo respeito e admiração) é burro: deviam ficar eternamente gratos ao berloque pelo jeitinho que vos fez - não será por acaso que os criadores da ideia, embora da concorrência, operam no mesmo ramo de negócio:




... e esta é a visão optimista do problema

25 February 2016

Motiva polémica, sim: de um só golpe, reforça a "fábula de Cristo" que nem o Leão X engolia; recita, convictamente, o credo católico do "deus pai todo poderoso"; e, dezanove séculos depois, comete a proeza de situar-se à direita de Celsus (isto de ter tido na origem um padre vermelho é no que dá)

"The Netherlands has recognised the Church of the Flying Spaghetti Monster as a religion: Pastafarians believe heaven is a beer volcano with a stripper factory, while hell is the same but the beer is stale and the strippers have sexually transmitted diseases"(COTFSM)

Citar os clássicos: Godinho vs Dylan

Radicais livres (XXVII)

OZ - todos os números online
 

24 February 2016

Tomar nota: o suplente do Capelão Magistral é de opinião que "a homossexualidade é, no mínimo, uma disfunção e uma desordem psico-afectiva" (no máximo, é para ser tratada com Zyklon B)
(clássico instantâneo!!!)

 
VIVA MOZ ANGELES!


Na edição de 2006 do IndieLisboa, foi exibido o documentário de William E. Jones, Is It Really So Strange?, que retratava uma peculiaríssima subcultura dos subúrbios da zona leste de Los Angeles: a transbordante devoção pelos Smiths (e por Morrissey, em particular), concretizada em noites temáticas nos clubes locais, frequentadas e organizadas por milhares de jovens oriundos da comunidade “latina” de LA (cerca de metade dos 10 milhões de angelenos), sobretudo, mexicanos, que adoptaram como um dos seus o contraditório britânico de Manchester aí expatriado, criatura melancólica, ácida, petulante, desmedidamente romântica e, paradoxalmente, alegado racista "borderline". Informalmente designada como “Moz Angeles” ou “Mozlandia”, era (e continua a ser) um fluido território social e mental colectivo de simbólica cidadania transcultural, para o qual convergem marginais, excluídos, ilegais, gays, párias, alvo privilegiado de diversas agressões legislativas anti-emigração, recentemente, convertido em "bête noire" do bovino Donald Trump. 



Se o filho de proletários irlandeses emigrados em Inglaterra se reinvindica de "Irish Blood, English Heart", os seus seguidores chicanos das várias Moz Krews arvoram o "Mexican Blood, American Heart" nas t-shirts que envergam durante os concertos dos Sweet And Tender Hooligans – a "tribute band" que mimetiza ao milímetro a discografia e os tiques dos Smiths –, acorrem em massa às Smiths/Morrissey Conventions e criaram o Teatro Moz, um festival de teatro inspirado pela obra de Morrissey. O amor é mútuo: Moz dedica-lhes "Mexico" (“In Mexico I went for a walk to inhale the tranquil, cool, lover's air, but I could sense the hate, from the Lone Star state… It seems if you're rich and you're white, you'll be alright”), desfralda a bandeira mexicana em palco, intitula as apresentações em LA “homecoming concerts”, incita a que ninguém vote em Trump e declara “I wish I was born Mexican”. Mexrrissey, banda de notabilidades da música popular do México, e No Manchester, álbum, eram inevitáveis: incluindo sete temas de Morrissey (dos quais, cinco são retomados "live", no registo de um concerto na Brooklyn Academy of Music), nada se perde e algo se ganha nesta exuberante conversão ao idioma dos "corridos", "mariachis" e "rancheras".
O pasquim direitolas online contratou um óptimo suplente para o Capelão Magistral (sim, o Kinky Wojtyla "tremendo e babando-se nos seus últimos tempos" foi uma repugnante exibição pública das suas taras privadas)

23 February 2016

"These monster children are capable suddenly of an innocence and a sincerity that call everything into question, sift out the detritus of the grown-up world, and give us back a world that is still and always very sweet and soft, tasting of milk and cleanliness. Thus in a constant seesaw of reactions, within a single story, or between one story and another, we never know whether to despair or to heave a sigh of optimism. But, in any case, we realize that we have emerged from the banal round of consumption and escapism, and have almost reached the threshold of meditation" (Umberto Eco)

Angola, "so much to answer for" 
(como diria o Morrissey)

22 February 2016

Isto é demasiado bom para ficar sepultado na caixa de comentários
 
Ganhei coragem (quero dizer, pachorra) para ir ler a entrevista do link. Ainda bem que o fiz. É, realmente, preciosa. 

Gostava de o apresentar à minha ex-porteira (santa senhora), têm pontos de vista bastante idênticos:

"A nossa colonização foi muito melhor do que a colonização de outros países, nomeadamente de Espanha. Fizemos uma colonização mais respeitadora, mais suave" 

"O Salazar não matava, mandava prender" (por acaso, aqui, a minha ex-porteira, votante convicta na CDU, era um bocadinho mais radical) 

"Os homens falam de uma forma mais grave, as mulheres de maneira mais melódica"  (notável a descoberta do conflito entre vozes graves e melodia)

"Os casais heterossexuais são mais harmónicos" 

"O que interessa na mulher são as características morais, mas se for bonita ajuda” 

"Já pensou que em vez de estarmos aflitos com o mosquito que transmite o Zika, devíamos pensar que isso pode ser um processo de resolver as dificuldades de proteínas, e começar a comer esses mosquitos num prato especial?" 

E gostei muito deste tocante momento autocrítico: 

"Como é uma ciência mais difusa, com menos certezas, é mais fácil formar essas escolas e crenças. Religiões, quase seitas"
"Escrevi-o há 30 anos: o que se passa no mundo não é um fenómeno de imigração, mas de migração. A migração produz a cor da Europa. Quem aceitar esta ideia, muito bem. Quem não a aceitar, pode ir suicidar-se. A Europa irá mudar de cor, tal como os Estados Unidos. E isto é um processo que demorará muito tempo e custará imenso sangue. A migração dos alemães bárbaros para o Império Romano, que produziu os novos países da Europa, levou vários séculos. Portanto, vai acontecer algo terrível antes de se encontrar um novo equilíbrio. Há um ditado chinês que diz: 'Desejo-te que vivas numa era interessante'. Nós estamos a viver numa era interessante" (Umberto Eco)
Há sempre um esqueletozinho repugnante pronto a sair do armário do marido da poetisa Silva
 
(daqui)
"Porque não uma universidade Miguel Relvas? Um prémio literário Sousa Lara? Ou um prémio de jornalismo Helena Matos? Uma auto-estrada Jorge Coelho? A ponte Vasco da Gama há muito que deveria ostentar o nome de Joaquim Ferreira do Amaral. A ponte do Feijó o de Manuel Dias Loureiro. Um banco José Oliveira e Costa, porque não? Um heliporto Tecnoforma não nos evocaria páginas gloriosas da nossa história colectiva que de outra forma serão relegadas para simples poeira dos tempos? E quem raios era o Caldas? O largo da sede do CDS-PP não se chamaria melhor Largo Jacinto Leite Capelo Rego?" (daqui)
Dispositivo a instalar na AR, antes do início das actividades parlamentares com o objectivo de criar um bom ambiente de trabalho: as "spanking machines" (eventualmente, daí em diante, alguns dos ilustres representantes do p.o.v.o. não quereriam outra coisa)



20 February 2016

“Une heure après la mort, 
notre âme évanouie 
Sera ce qu'elle était 
une heure avant la vie” 
(Cyrano de Bergerac, citado por Umberto Eco 
em A Ilha do Dia Antes)
Dicas úteis e intemporais da "Life Magazine" 
e da Listerated Pepsin Gum


19 February 2016

(pardon my french)
Mais histórias queridinhas e fofas da multinacional de que o santo Chiquinho é CEO
Um muito razoável critério de selecção

Verde de inveja por não ter sido
"Memory has become prosthetic – outsourced to the internet, to external hard drive or cloud storage system. What should we remember? What should be preserved? The paradox of the digital future is the burden of the past that we are constantly archiving. (...)  The defining characteristic of being human in the digital age is that of being overwhelmed by the past – and the threat to our creative present and future is that the past becomes too omnipresent for us to move forward. Enter the creative potential of forgetting" (aqui)

18 February 2016

 
The Raft of George W Bush - Joel-Peter Witkin (2006)

À DESCOBERTA

Há, pelo menos, duas canções de Peter Gabriel que, desde que foram gravadas na "stone room" dos Townhouse Studios de Shepherd's Bush, em 1980, não apenas adquiriram o estatuto de clássicos, como – pelas piores razões que um pessimista antropológico explicaria com facilidade – se tornaram, literalmente, intemporais. Quiçá, eternas. Uma é "Not One Of Us", e, nela, de forma violentamente seca, por entre chicotadas de guitarra e percussão implacável, Gabriel canta “It's only water in a stranger's tear, looks are deceptive but distinctions are clear, a foreign body and a foreign mind, never welcome in the land of the blind, you may look like we do, talk like we do, but you know how it is, you're not one of us”. Não se entende por que motivo, hoje, não é banda sonora frequente de noticiários. A outra é "Games Without Frontiers" (“Whistling tunes, we hide in the dunes by the seaside, whistling tunes, we piss on the goons in the jungle, it's a knockout, if looks could kill, they probably will, in games without frontiers, war without tears”), parábola ácida sobre a devastadora territorialidade tribal da espécie, da guerra ao desporto.


Estão ambas no terceiro álbum a solo de Peter Gabriel e, em conjunto com as restantes oito, contribuem para a edificação de um arrepiante políptico de alienação e exclusão (não há personagem de nenhuma canção que, tal como a da faixa de abertura, não seja um “intruso”) que lhe permitiu, por fim, a afirmação de uma personalidade musical claramente distinta daquela que era a sua nos Genesis. Nos dois volumes anteriores, (Car e Scratch, 1977 e 1978, assim designados de acordo com o "artwork" das capas), Gabriel ainda gatinhava estilisticamente no percurso dessa descoberta – mas deu-nos “Solsbury Hill” e “Here Comes The Flood” – e o que viria a seguir, Security (1982), seria um magnífico tiro de partida para a experimentação com "samplers" e a imersão no universo da "world music" que desembocaria, sete anos depois, na fundação da Real World. Os quatro poderão, agora, ser reescutados, numa daquelas operações de mariquice audiófila (isto é, "half-speed remastered" e reeditados em vinil de 180 gramas, no formato de álbuns duplos de 45rpm) através da qual os de muita fé, ao sexto compasso da terceira faixa do lado 2, lograrão ouvir o eco da voz do cantor na cavidade do segundo molar inferior direito.
Radicais livres (XXVI)

Kampfreime
 


17 February 2016


"Disbelief in the supernatural is as old as the hills. It is only through profound ignorance of the classical tradition that anyone ever believed that 18th-century Europeans were the first to battle the gods. We tend to see atheism as an idea that has only recently emerged in secular western societies. The rhetoric used to describe it is hyper-modern. In fact, early societies were far more capable than many since of containing atheism within the spectrum of what they considered normal. Rather than making judgments based on scientific reason, these early atheists were making what seem to be universal objections about the paradoxical nature of religion – the fact that it asks you to accept things that aren’t intuitively there in your world. The fact that this was happening thousands of years ago suggests that forms of disbelief can exist in all cultures, and probably always have" (ver também aqui e aqui)
Um trafulha como muitos outros

"The song 'Tom's Diner' by Suzanne Vega was the first song used by Karlheinz Brandenburg to develop the MP3. Brandenburg adopted the song for testing purposes, listening to it again and again each time refining the scheme, making sure it did not adversely affect the subtlety of Vega's voice" (aqui)

É bom e belo ver o marido da poetisa Silva de braço dado com o Troni
mp3


A culpa foi de Eberhard Zwicker. Um dos fundadores da psicoacústica – o estudo científico da forma pela qual os humanos apreendem o som –, o seu ponto de partida havia sido a verificação de que o ouvido humano não funciona como um microfone. Na verdade, o processo de selecção natural configurara-o apenas para ser competente em duas tarefas fundamentais: ouvir e interpretar a linguagem e actuar como um sistema de alerta perante a aproximação de grandes felinos carnívoros. Em praticamente todo o resto, as imperfeições da percepção sonora são inúmeras. A investigação de Zwicker concentrou-se, pois, na identificação dos limites da audição e partilhou-a com Dieter Seitzer, engenheiro informático de quem foi orientador de tese. Pelo que, quando, em 1982, o surgimento do CD foi entusiasticamente saudado pela comunidade de engenheiros e técnicos de som (“Perfect sound forever!”), Seitzer, praticamente isolado, encarou-o como um exercício absurdo de criação de um repositório de informação irrelevante, a maioria da qual o ouvido ignorava.


Com a colaboração da equipa de Karlheinz Brandenburg que conhecera quando lhe coube a vez de ser o seu orientador na Universidade de Nuremberg, ao fim de vários anos de experimentação e pesquisa, chegaram, em 1991, ao formato de compressão áudio, o mp3, que, com perdas de qualidade imperceptíveis, reduziria um ficheiro para 1/11 do tamanho original. E, por arrasto, inauguraria a era da pirataria de música na Internet. Pode supor-se que um livro de cerca de 300 páginas cujo objectivo é contar esta história de A a Z, dificilmente possa cativar quem não esteja directamente interessado nesse assunto. A verdade é que How Music Got Free (The End of an Industry, The Turn of the Century and the Patient Zero of Piracy), de Stephen Witt, é um absoluto "page-turner" que se lê avidamente mesmo conhecendo-se, à partida, o desfecho. Verdadeira história de piratas, com heróis, vilões, peripécias inesperadas e volte-faces surpreendentes, entre muitos outros, permite-nos conhecer o anti-heroi, Dell Glover, operário negro da Carolina do Norte e campeão indisputado do "leaking" (20 000 álbuns em menos de uma década) que, quando Witt lhe perguntou porque nunca tinha contado a sua história, respondeu: “Man, no one ever asked”.

16 February 2016

Food For Thought (XXXVI)

É assim

"Na chegada a Portugal, as teorias a que chamámos eduquês apresentaram-se como novas. Não o eram. 40 anos depois são ainda mais velhas! E também entre nós foram uma experiência devastadora. No delírio ideológico de tornar todos iguais, cavaram um fosso maior entre os mais favorecidos e os outros. Exigência e sucesso para o ensino privado, facilitismo e miséria para o público. Grande esquerda!" (aqui)
Precursores do Trampas 
(& outros)