12 May 2017

HERDAR A FESTA


A Ian Hamilton Finlay (1925–2006), pastor, jardineiro, poeta e artista plástico, devemos os “poemas-objecto” em pedra que implantou no jardim de Little Sparta, perto de Edimburgo – “cada área receberá um pequeno artefacto que reinará como uma pequena divindade ou espírito do lugar” –, a redução drástica do monóstico (poema de um só verso) a uma única palavra e a poesia visual/concreta, publicada na revista que editou, Poor.Old.Tired.Horse, o que lhe assegurou, em exclusivo, o título de "avant-gardener" da cultura britânica. A sua primeira recolha de poesia foi The Dancers Inherit the Party (1960) onde, logo a abrir, se lê: “When I have talked for an hour I feel lousy, not so when I have danced for an hour: the dancers inherit the party while the talkers wear themselves out and sit in corners alone, and glower”. Não é, obviamente, um acaso que o ultimo álbum dos British Sea Power se intitule Let The Dancers Inherit The Party e que, em "Praise For Whatever" se escute Yan Scott Wilkinson cantar “It's such a convoluted hour to play amongst the flowers, when we're counting all the missiles down from three to one to none, and in a world of extremities we all are accessories so let the dancers inherit the party”



E também não é, de todo, inesperado: se a banda originária do paradisíaco Lake District e transplantada para Brighton já incluía no currículo o magnífico Machineries Of Joy (2013), inspirado em Ray Bradbury, e, em "Georgie Ray" (de Valhalla Dancehall, 2011), fundia Bradbury com George Orwell, invocar, agora, Ian Hamilton Finlay e recorrer a uma biografia de Jaroslav Hašek (The Bad Bohemian) para dar nome a uma canção (e correspondente videoclip de inspiração dada-surrealista via-Kurt Schwitters), é apenas uma muito natural sequência. Confessadamente concebido sobre um pano de fundo de “políticos aperfeiçoando a arte da mentira descarada, das câmaras de eco das redes sociais, dos iscos publicitárion online e dos brinquedos electrónicos que pretendem manter-nos distraídos e atordoados”, o que inquieta esta descendência – tardia mas vibrantemente reconfigurada – dos Echo & The Bunnymen e New Order é, afinal, a resposta urgente a uma pergunta: “Punk prayers, city riots, demagogues and fading lights (…) Mr psychedelic, you're a loveable relic, Mr DIY, are you no longer asking why?”

No comments: